1.4.10

Vai Faltar Árvore No Mercado?

Para especialistas, projetos de compensação ambiental no País podem entrar em crise com a escassez de mudas de espécies nativas.

O cenário não poderia ser mais favorável: há dinheiro, vontade e mão de obra capacitada para promover uma grande recuperação das florestas nativas brasileiras no rastro das ecologicamente corretas compensações ambientais. No entanto, especialistas na flora nacional estão preocupados, e não otimistas, porque a falta de matéria-prima pode comprometer os projetos de reflorestamento previstos para os próximos anos no País. Técnicos do governo e produtores que atuam no segmento verde alertam que a produção de mudas de espécies brasileiras não será suficiente para atender à demanda que se desenha. E, na falta de espécies nacionais, as árvores exóticas (naturais de outros países) podem ocupar o lugar da flora nacional. "A prioridade nos reflorestamentos é para as espécies nativas, mas algumas exóticas podem ser aceitas, caso o plantio seja aprovado pelos órgãos ambientais", afirma o promotor Murilo Bustamante, da Promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público do Rio de Janeiro. Se o reflorestamento fosse importante apenas para o controle das emissões de gases do efeito estufa, a origem da árvore não interessaria tanto. "Ela precisa apenas ter potencial para sequestrar e manter o carbono", explica o coordenador de recuperação ambiental do município do Rio, Marcelo Hudson. "Mas, se pensarmos em biodiversidade, temos de obedecer às regras da natureza.

A introdução de árvores de outros biomas pode causar distúrbios tanto na fauna quanto no solo do ecossistema", completa Hudson, que comanda um projeto que em 20 anos plantou cerca de cinco milhões de mudas nativas na cidade. A falta de um programa específico para fomentar a produção de mudas nativas é um dos problemas que vieram à tona com a demanda ocasionada pelo aquecimento global. Ecologistas estimam entre 170 milhões e 200 milhões de hectares a área de florestas destruída que pode ser recuperada, mas a quantidade de mudas nativas produzidas no País é um mistério.De acordo com o Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), do Ministério da Agricultura, existem 3.641 produtores de mudas no Brasil. Entretanto ninguém sabe quantos deles se dedicam às espécies nacionais. A Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem) também não tem dados sobre os que semeiam mudas nativas. Os mais otimistas arriscam o número de 15 milhões por ano. Como cada hectare comporta entre 800 e 1.200 mudas, o déficit torna-se expressivo. "Entre 60% e 70% dos municípios brasileiros são desprovidos de viveiros. E os que existem são dedicados à arborização urbana", adverte o engenheiro florestal Luiz Carlos Sérvulo de Aquino, do Ministério do Meio Ambiente. Entre as grandes obras que vão exigir compensações ambientais, apenas no Estado do Rio de Janeiro, estão a construção do parque industrial da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a implantação do trem- bala e o arco rodoviário.

Os investimentos estão na casa dos bilhões, sendo que a legislação ambiental determina que meio por cento do custo das obras seja aplicado em compensações ambientais. "Certamente, teremos um boom de projetos de reflorestamento no Rio e em outros Estados, sem que a produção de mudas consiga acompanhar essa demanda", alerta o engenheiro florestal Marcelo de Carvalho Silva, dono da Biovert, empresa fluminense que produz e comercializa mudas e sementes do sistema vegetal atlântico. Segundo Silva, a Biovert, que tem capacidade de produção de até três milhões de mudas por ano, está se preparando para dobrar a produção até 2012 e triplicá-la até 2014, de olho nos reflorestamentos resultantes de compensações ambientais. Alguns órgãos do governo anunciam esforços para resolver o problema. Mas as iniciativas ainda são tímidas e demonstram o descaso com que a flora nativa foi tratada ao longo dos anos. O Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, somente agora está elaborando com técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) uma lista de espécies potencialmente aptas tanto para os plantios imediatos de áreas degradadas quanto para o aperfeiçoamento das pesquisas.

Vão fazer o que foi feito com espécies exóticas, como pinus e eucalipto (que abastecem o setor de papel e celulose, a siderurgia e a indústria moveleira), a partir da década de 60 e que tornou o Brasil líder mundial de produtividade e de conhecimento acumulado nesses gêneros. O chefe do departamento de políticas e estudos de meio ambiente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), Márcio Macedo, disse que o órgão tem um leque de opções de financiamento para recuperação florestal, mas reconhece que não há linhas de crédito específicas para a ampliação de viveiros de mudas nativas. "Compartilhamos dessa preocupação, mas estamos em estágio incipiente. Afinal, essa demanda nunca esteve tão evidente", afirma Macedo. Mas a lição é simples: para recuperar nossas florestas e conservar nosso ecossistema, o mercado de mudas nativas tem de florescer.

fonte:ciflorestas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

2leep.com

análise de SEO gratuito para blogs