22.10.10

Recuperação do solo degradado: a única alternativa verde e amarela


No dia 18 de agosto de 2010, foi aprovado pelo Conselho Monetário Nacional o Programa Agricultura de Baixo Carbono,cujo objetivo é disponibilizar R$ 2 bilhões por meio do BNDES para estimular o uso de técnicas que reduzam a emissão de gases de efeito estufa.


O pecuarista, por sua vez, também já pode contar com o auxílio do governo na hora de implantar estratégias “verdes”: em dezembro de 2009, a Lei 12.187 criou o Fundo Nacional de Mudança do Clima, outro importante órgão de fomento que apoiará iniciativas sustentáveis no campo.
A crescente atenção dedicada aos impactos ambientais da agropecuária não é obra do acaso. Responsável por grande parte do desmatamento da Amazônia, a agropecuária vem sendo apontada como a principal vilã ambiental no Brasil, pois responde pela maior parcela de emissão de gases de efeito estufa do país.
O governo brasileiro está investigando meios de implantar um mercado de carbono nacional para os setores econômicos mais poluentes. O Ministério da Fazenda encomendou uma pesquisa sobre como um mecardo de carbono doméstico ajudaria a controlar as emissões em setores como o de energia, transportes, agronegócios e indústria. Desde então, o Brasil entrou para o rol de países emergentes que vêem na criação de um mercado de carbono interno uma alternativa para reduzir suas emissões. Outros países como Coréia do Sul, México e Costa Rica cogitam a mesma possibilidade. No entanto, a proposta que mais se assemelha à brasileira vem da Austrália.
Nesse país, existe uma proposta de mercado de carbono ainda em fase de estudo denominada Soil Carbon Accreditation Scheme (SCAS). Seu objetivo consiste em sequestrar CO2 por meio da plantação de pastos e áreas de cultivo permanentes, uma estratégia que não encontra paralelo em outros países do hemisfério sul. O pioneirismo da Austrália deriva do reconhecimento de que plantas podem ser importantes aliadas na captura de CO2 através do solo, uma vez que a fotossíntese absorve esse gás e libera oxigênio em troca. E não é só isso: estudos mostram que plantios são mais eficientes na captura de CO2 do que florestas nativas. As gramíneas presentes no pasto, por exemplo, têm um potencial de absorção de carbono superior àquele das árvores.
Recentemente, a Universidade de Sydney revelou mais uma vantagem estratégica das áreas de cultivo no combate ao aquecimento global. Segundo os pesquisadores, o plantio de gramíneas em uma determinada área pode absorver mais metano do que o gado nela apascentado é capaz de liberar. No entanto, isso só acontece quando há um alto teor de matéria orgânica na camada agriculturável do solo. Em outras palavras, o solo saudável é capaz de neutralizar as emissões de metano geradas pela fermentação entérica do gado. No entanto, essas conclusões ainda não são definitivas. No Brasil, a Krya LP está desenvolvendo pesquisas no cerrado.
Enquanto a Austrália ainda está conduzindo propostas, em Portugal já é possível encontrar um projeto em plena fase de execução. Em julho de 2009, o governo português destinou milhões de dólares à recuperação de áreas de pasto, procedimento respaldado pelo Protocolo de Quioto. Estima-se que a quantia atenderá um total de quatrocentos fazendeiros participantes e tornará produtiva uma região de aproximadamente 42.000 hectares. O objetivo é aumentar a capacidade de retenção de carbono e água do solo, o que o tornará mais fértil.
A solução encontrada pelo governo português pode ajudar o país a cumprir sua meta de redução de emissões prevista no Protocolo de Quioto. Ao que tudo indica, se o escopo do projeto abrangesse toda a área destinada à agricultura, Portugal poderia, inclusive, superar a meta de cortes estabelecida. E não é só isso: os investimentos necessários seriam mínimos, se comparados aos gastos de outras iniciativas de redução de emissões.
Tanto a iniciativa portuguesa quanto o projeto australiano indicam exatamente o caminho que o Brasil ainda precisa percorrer. A recuperação de áreas degradas implementada em Portugal pode ser a solução mais simples para conter o desmatamento da Amazônia, que, seguido pela flatulência do gado, é um dos maiores desafios apontados no inventário brasileiro de emissões.
Na hora de regenerar terras, vale a pena conhecer opções ecologicamente corretas, como a utilização de meios naturais – e economicamente mais vantajosos – de conseguir os nutrientes que o solo precisa. Os fungos microrrizais são uma alternativa de relevo, pois, ao absorverem carbono, fornecem nitrogênio orgânico, cálcio, entre outras substâncias importantes que contribuem para o crescimento da planta. Dessa forma, a recuperação de áreas degradadas é útil não apenas porque sequestra CO2 e, consequentemente, reduz as emissões, mas também porque ajuda a enriquecer o solo.
Portanto, o investimento na “reabilitação” de áreas com solo empobrecido ataca dois problemas de uma vez só: por um lado, ele colabora com a luta contra as mudanças climáticas, porque o plantio captura o carbono na atmosfera, podendo, inclusive, neutralizar as emissões oriundas do gado. Já na frente de batalha contra o desmatamento, a recuperação também pode ser uma ferramenta importante, porque reaproveita espaços outrora abandonados, o que impede o alargamento da fronteira agropecuária.
De acordo com levantamentos oficiais das autoridades brasileiras, já existem cerca de 60 milhões de hectares de áreas degradadas que podem ser aproveitadas pela atividade agropecuária. É preciso, contudo, recuperá-las e evitar a expansão da fronteira agrícola para regiões de mata nativa. Infelizmente, o inventário de emissões publicado pelo governo ainda está vinculado a uma visão míope da atividade agropecuária – falha herdada do modelo proposto pelo IPCC. O problema é que os dados colhidos pela Embrapa concentram-se na quantidade de metano emitida pelo gado, sem fazer qualquer alusão ao sequestro de dióxido de carbono equivalente absorvido pela vegetação e pelo próprio solo.
Atingir a meta de redução de emissões estipulada entre 36,1% e 38,9% em Copenhague exigirá das autoridades brasileiras ações inovadoras como, por exemplo, a criação de um mercado de carbono interno. 



Fonte: Nuno Costa e Silva, Vice-Presidente da ABEMC; Presidente do Conselho da Ambio Serviços Ambientais

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