27.4.11

Programa Agricultura de Baixo Carbono é boa opção para produtores


Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) busca estimular técnicas que aliam produção agropecuária com redução dos gases causadores do efeito estufa.


Criado em junho do ano passado, o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) ainda não chegou ao conhecimento de grande parte dos envolvidos no agronegócio brasileiro. Muitos agricultores, técnicos e, até mesmo, instituições governamentais não possuem informações concretas sobre o funcionamento e os serviços oferecidos pelo ABC. O programa foi instituído pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com o objetivo de estimular técnicas e atitudes que aliem produção de alimentos e bionergia com redução dos gases causadores do efeito estufa. 

O Plano Agrícola e Pecuário 2010/2011 disponibiliza R$ 18 bilhões para crédito rural. Deste total, R$ 2 bilhões são destinados ao programa ABC, para investimento em técnicas que garantem balanço positivo entre sequestro e emissão de dióxido de carbono (CO2). O programa vai garantir recursos a agricultores e cooperativas, com limite de financiamento de R$ 1 milhão por beneficiário. O crédito será financiado com taxa de juros de 5,5% ao ano e prazo de reembolso de 12 anos. A carência pode variar de seis meses a três anos dependendo da tecnologia adotada pelo produtor. 

Segundo o Mapa, o ABC é destinado aos agricultores de todos os biomas brasileiros e pretende, em um prazo de 10 anos, deixar de emitir 165 milhões de toneladas equivalentes de CO2. Os recursos do programa são focados em cinco práticas sustentáveis de produção: plantio direto, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), plantio de florestas, recuperação de áreas degradadas e fixação biológica de nitrogênio. 

Para Renato Viana Gonçalves, da divisão de cultivos florestais da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), o resultado do programa vai depender da percepção do produtor e da expectativa de retorno financeiro. O programa vai propiciar o equilíbrio entre produção e sustentabilidade ambiental, avalia. 

Remuneração 
O diretor adjunto de pesquisa do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Augusto Guilherme de Araújo, lembra que a legislação ambiental está cada vez mais restritiva quanto ao uso de agrotóxicos e para o controle da erosão. Quando surge uma forma de transformar o impacto ambiental negativo em positivo, o produtor que se adequar pode ganhar com isso, revela. Araújo acredita que essa iniciativa pode indicar um posicionamento favorável do governo à remuneração por serviços ambientais. A sociedade está começando a se conscientizar de que é preciso pagar o agricultor pelo serviço ambiental prestado. O ABC vem ao encontro desse anseio do produtor, argumenta. 

De acordo com o responsável técnico da Master Ambiental, Fernando João Rodrigues de Barros, a indefinição para aprovação do novo Código Florestal dificulta o processo. Barros acredita que após a definição da nova legislação, deve se iniciar um processo de aproximação entre produtores e ambientalistas. Só existe um caminho: remunerar o produtor que protege a água e os recursos de sua propriedade, reforça Barros, alegando que o Brasil só conseguirá atender a demanda mundial por alimentos se preservar sua água. 

O pesquisador do Iapar, Sérgio José Alves, explica que, por meio da fotossíntese, a produção agrícola retira o carbono da atmosfera e o fixa nas plantas. Ao utilizar o produto na alimentação animal - como o farelo de soja - parte do carbono volta a ser liberado na atmosfera e parte é fixada no animal. O objetivo é deixar esse balanço positivo, que ocorre quando o volume de carbono retirado da atmosfera e fixado nas plantas e no solo é maior do que o emitido, esclarece. Segundo ele, o programa ABC é uma oportunidade para o produtor. É uma oportunidade de ganhar mais e praticar agricultura de menor impacto ambiental, avalia. 

Mais investimentos 
Além do ABC, recursos do Plano Agrícola e Pecuário 2010/2011 são investidos no Programa de Incentivo à Produção Sustentável do Agronegócio (Produsa), que inclui a cultura da palma entre os itens financiáveis, quando cultivada em áreas degradadas, e o Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas (Proflora), direcionado à implantação de florestas e à recomposição das áreas de Reserva Legal e Preservação Permanente.

Plantio direto é destaque no Paraná
Dentre as atitudes sustentáveis enfatizadas pelo programa Agricultura de Baixo Carbono, o Plantio Direto na Palha é o mais disseminado entre os agricultores paranaenses. O pesquisador do Iapar, Sérgio José Alves, informa que o Estado possui 5 milhões de hectares plantados no sistema. O produtor Cláudio Vicente DAgostini foi um dos pioneiros a aderir ao plantio direto. Em sua propriedade de 387 hectares, localizada em Sabáudia, DAgostini utiliza a técnica há 20 anos. Não sei se ficaria na roça sem o plantio direto, ressalta. Com o ABC, o Ministério da Agricultura pretende ampliar a área ocupada com a técnica em 8 milhões de hectares. 

No verão eu planto soja por dois anos e depois planto milho. Faço rotação de culturas para não ter perigo de doenças e também porque faz bem para a terra, alega. Já no inverno, DAgostini planta milho safrinha ou trigo. Mesmo sem saber detalhes sobre os benefícios do plantio direto para a retenção de carbono, o produtor esclarece que optou pela técnica para evitar a erosão. Hoje, resolvi 100% do problema, dificilmente corre água na plantação, comemora. 

A semeadura direta na palha faz com que a terra não fique exposta ao sol. Além disso, ao dispensar o revolvimento da terra, o sistema preserva a matéria orgânica no solo, o que representa mais carbono fixado. De acordo com o engenheiro agrônomo do Instituto Emater, Geraldo Moreli, a lavoura de Cláudio DAgostini possui elevado nível de carbono por metro cúbico de solo, devido ao processo contínuo de plantio direto e à realização de rotação de culturas. Ao manter a palha no solo o produtor evita erosão e os microorganismos agem com mais intensidade, explica Moreli. 

Segundo Sérgio Alves, com o plantio direto a taxa de apodrecimento da palha que fica na superfície é menor se comparado ao solo arado. Quando a palhada apodrece, uma parte do carbono é absorvida pelo solo e outra volta para a atmosfera, elucida. Alves afirma que a média de presença de matéria orgânica do solo em Londrina é de 1,8%. Já registramos índices de 3% de matéria orgânica em áreas com plantio direto, salienta. 

Outras práticas 
Em relação à fixação biológica do nitrogênio, o chefe geral da Embrapa Soja, Alexandre José Cattelan, afirma que esta é uma técnica muito importante para a cultura da soja. O Brasil é o país que mais utiliza essa tecnologia, revela. A inoculação de bactérias em sementes de leguminosas reduz a adubação mineral nitrogenada e, em alguns casos, chega a substituí-la, diminuindo o custo de produção. Calcula-se uma economia de R$ 5 bilhões por safra no País, informa. 

Cattelan aponta, ainda, outras práticas agrícolas que trazem benefícios ao meio ambiente e economia ao produtor, como o Manejo Integrado de Pragas, que reduz a aplicação de inseticidas, e as pesquisas destinadas à racionalização do uso de fertilizantes, que garantem o bom desempenho das lavouras com uso de quantidade mínima de aplicações. Cattelan destaca também a rotação de culturas e o uso de cultivares resistentes a doenças, que reduzem a aplicação de agrotóxicos.

Retenção de carbono garante qualidade do solo
O produtor Paulo Guerra possui 15 hectares plantado com seringueira: por ser uma cultura perene, a floresta contribui para o balanço positivo de rentenção de carbonoNo município de Cafeara, Norte do Estado, o produtor Paulo Roberto de Guerra Carvalho realiza, desde a década de 1990, integração lavoura-pecuária e plantio de seringueiras. Com respaldo de uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa Agropecuária Oeste em sua propriedade, Guerra afirma que o sistema de integração das culturas de soja e braquiária é o que mais incorpora carbono no solo. ‘‘Preciso reter carbono para aumentar a matéria orgânica no solo. Economicamente o meu sistema não é viável se eu não preservar’’, salienta. 

No início, Guerra intercalava a soja de verão com o milho safrinha, consorciado com aveia e nabo. No entanto, o agricultor percebeu que o aproveitamento era baixo durante o inverno e passou a plantar braquiária após a colheita da soja. ‘‘A braquiária fica no campo até setembro ou outubro e, depois, começo o plantio da soja’’, explica. A fazenda Santa Helena possui 811 hectares, dos quais, 400 são ocupados com integração lavoura-pecuária. A braquiária é utilizada para alimentar as 800 cabeças de gado de corte mantidas por Guerra. O agricultor também produz café e cana-de-açúcar. ‘‘Mas estou pensando em transformar a área de cana em integração porque o resultado é mais consistente’’, avalia. 

Atualmente, Guerra possui 110 hectares ocupados por reserva legal, área de preservação permanente (APP) e reflorestamento. O plantio de seringueira teve início em 1990 e hoje ocupa 15 hectares da fazenda Santa Helena. Por ser uma cultura perene, a floresta contribui para o balanço positivo de retenção de carbono. De acordo com chefe geral da Embrapa Soja, Alexandre José Cattelan, os sistemas florestais são mais sustentáveis, pois quanto mais perene a cultura, mais carbono ela mantém. O pesquisador do Iapar, Sérgio José Alves, estima que o Paraná possua 300 mil hectares no sistema de integração lavoura-pecuária-floresta. ‘‘Ainda é pouco, mas a técnica está crescendo’’, comenta. 

Agrônomo, Paulo Guerra percebeu que o solo da região de Cafeara é muito arenoso e suscetível à erosão e, por esse motivo, buscou formas mais conservacionistas de produção. ‘‘O foco era não perder o solo, mas depois percebi que o que era bom para isso incluía a preservação de carbono no solo’’, explica. 

A meta do programa ABC é aumentar, na próxima década, a utilização dos sistemas de ILPF em 4 milhões de hectares. Em relação à área de florestas, a intenção do Mapa é passar dos atuais 6 milhões de hectares para 9 milhões de hectares até 2020.


Fonte: Folha de Londrina/ Mariana Fabre


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