23.7.11

Certificação pode trazer ganhos para produtores e consumidores


Selo sócio-ambiental pode ser passaporte para novos mercados e melhores preços. Preferência do consumidor por produtos certificados aumenta, mas este mercado ainda está em desenvolvimento.


Commodities são produtos não diferenciados, normalmente comercializados em bolsas a preços mundiais. A maior parte dos produtos agrícolas e florestais – como café, açúcar, soja, celulose – são commodities. É possível fazer com que produtos teoricamente iguais sejam diferenciados pela maneira como foram produzidos? Selos que garantam melhores práticas agrícolas e sócio-ambientais na produção podem ser uma dessas maneiras.
O cardápio de certificações de produtos agrícolas é variado. Existem selos para os mais diversos aspectos, de segurança sanitária, passando por qualidade, origem do produto, indicação geográfica, até relacionados a boas práticas sócio-ambientais, entre outros. 
Além de conteúdo, estas certificações agrícolas também se diferenciam na maneira como foram criadas, se foram elaboradas por uma única instituição ou por um colegiado de partes interessadas. Muitos destes selos já estão nas prateleiras dos supermercados. A demanda por esse tipo de produto se consolida em outros países e começa a se desenvolver no Brasil. Porém, na hora de escolher, é importante que o consumidor entenda as diferenças e faça sua escolha.
Como certificar 
Neste cenário em que a certificação começa a incorpora-se ao dia a dia de produtores, empresas e consumidores, qual o caminho das pedras para obtê-la? De acordo com o engenheiro agrônomo e consultor do Instituto de Manejo e Certificação Florestal Agrícola (Imaflora), Eduardo Trevisan Gonçalves, antes de tudo, o produtor precisa conhecer os critérios da certificação que deseja e quais as vantagens que ela trará para o seu negócio. 
O passo seguinte, diz ele, é implementar os procedimentos na fazenda, atividades e processos. Depois, explica Gonçalves, o produtor precisa contratar uma empresa de auditoria, que irá endossar ou não o processo de certificação. “Em linhas gerais, a equipe de auditores verifica documentos e vistoria a propriedade, cruzando as informações”, esclarece o consultor. 
O diretor da Agrogenius, empresa de consultoria e treinamento especializada no setor, Márcio Mitidieri, lembra que a manutenção da certificação está atrelada a auditorias periódicas. “Se o produtor não se sujeitar à fiscalização recorrente, o selo pode ser suspenso ou até mesmo cassado.”
Potenciais benefícios 
Para o produtor, a certificação agrícola pode trazer benefícios tanto no âmbito interno da fazenda, quanto externo no tocante à aceitação e valorização dos produtos. É a descomoditização da produção por meio da diferenciação. Exatamente por ser obrigado a seguir um conjunto de normas, observa Gonçalves, o produtor naturalmente melhora a gestão do seu negócio, que ganha em profissionalização. 
Além disso, a certificação pode abrir portas em mercados antes inacessíveis, bem como pode também trazer diferenciais positivos de preço aos produtos. “Ao atuar diretamente na imagem do produto, na marca da empresa, um selo se transforma num passaporte para novos mercados e melhores preços”, pontua Gonçalves.
Consumidor começa a valorizar…
Sob a perspectiva do consumo, estudo do instituto Akatu revela que 37% das pessoas estão dispostas a pagar até 25% a mais por produtos ambientalmente amigáveis. 
“Isso mostra que o consumidor já dá preferência para produtos certificados, como, por exemplo, o que carregam selos de responsabilidade sócio-ambiental. É lógico que às vezes, ele [o consumidor] não está disposto a pagar um preço muito maior por isso, mas já entende que esses produtos são melhores e se a diferença de valor for pequena, compra o que é certificado”, salienta Gonçalves. 
…mas mercado ainda precisa evoluir
Estudo do Instituto Internacional de Desenvolvimento Sustentável (IISD) mostrou que os prêmios no preço pago por produtos certificados FSC, uma importante certificação florestal, foram muito menores no Brasil do que em outros países como Áustria, Suíça e, até mesmo, Malásia e Indonésia. 
Além disso, o mesmo relatório apontou que só se paga mais por café certificado quando os preços desta commodity estão bastante baixos. Quando o preço sobe, o consumidor deixa de valorizar produto certificado.
O diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (APROSOJA), Marcelo Duarte Monteiro, lembra que, no âmbito da Mesa Redonda da Soja Responsável, a ausência de prêmio a ser pago pela soja certificada traz prejuízos ao produtor.  “A indústria europeia, por exemplo, principalmente, a que está localizada na Holanda, quer produtos certificados, mas se recusa a discutir diferenciais de preço atrelados ao selo.”
A Mesa Redonda da Soja Responsável é um fórum internacional multissetorial de discussão sobre a sustentabilidade da oleaginosa. Participam instituições de setores e países relacionados com a cadeia de produção e comercialização da oleaginosa, bem como produtores, exportadores, agroindústria, instituições financeiras, além de ONG’s sociais e ambientais.
Monteiro chama atenção ainda para o fato de que certificações de caráter ambiental exigem cumprimento da legislação vigente, que, neste momento, sublinha ele, se encontra em discussão no Congresso Nacional. “Assim, para aumentarmos a competitividade da soja brasileira nos mercados de maior valor agregado, precisamos aprovar a reforma do Código Florestal.”
Desafios
Segundo o gerente de sustentabilidade da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA), Luiz Amaral, o futuro dessas certificações na agricultura é promissor, mas ainda existem desafios importantes. 
O primeiro é o entendimento do que representa cada selo. Segundo Amaral, existem inúmeros selos e cada um tem o seu valor, dependendo dos seus objetivos. “Produtores e consumidores devem escolher aqueles que melhor se encaixem em suas expectativas. É importante entender e escolher”, afirma. 
O outro desafio é consolidar a demanda pelos produtos certificados. Como muitos produtos agrícolas são insumos para outros produtos, é importante notar que a indústria alimentícia e transformadora também deve estar incluída nesse processo. 
Segundo Amaral, é preciso que o consumidor final também observe se há certificação agrícola em produtos acabados, como biscoitos e refrigerantes, que usam insumos agrícolas. “Aí está uma enorme parte do consumo de produtos de origem agrícola. Só assim este mercado evoluirá”, conclui.


Fonte: souagro.com.br


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