22.3.12

Borracha em cinco anos - Seringueiras plantadas em cafezais sofre com nematoides


Pesquisadores de São Paulo, na corrida para elevar a oferta do produto no país, criam 15 novos clones que aliam precocidade à maior produtividade



Investir em um seringal demanda, sobretudo, paciência. O lucro com o plantio pode vir em dez anos, mas o processo de melhoramento genético é ainda mais demorado – leva até 30 anos. Na década de 1980, a Secretaria de Agricultura de São Paulo iniciou uma pesquisa que culminou agora em novos clones de seringueiras, que aliam precocidade à alta produtividade. O estudo, conduzido por Paulo Gonçalves, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), em parceria com Erivaldo Scaloppi Junior, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), selecionou a princípio 60 plantas, que depois passaram por um pente-fino para a eleição das 15 melhores e formaram a série IAC 500.

Os novos clones apresentam características distintas, com base na forma com que distribuem o fluxo de energia entre o crescimento e a produção de látex. “Uns não produzem tanto, mas crescem bastante; outros crescem menos, mas rendem mais em borracha”, explica Scaloppi Junior. O IAC 500, o mais produtivo da linha – verte 1.730 quilos de látex por hectare, 40% a mais que a variedade mais plantada em São Paulo hoje –, tem bom crescimento, mas se destaca mesmo na produção de borracha, ao contrário do IAC 505, que se sobressai pela precocidade. “Enquanto o início da exploração do seringal leva sete anos, o IAC 505 permite que a sangria da árvore comece em cinco anos”, afirma o pesquisador da Apta. “O produtor é quem vai escolher que tipo de planta mais o agrada”, completa.

Oferecer opções de cultivares foi a saída encontrada para reduzir a dependência de um único clone no setor. Atualmente, o RRIM 600 domina cerca de 80% dos plantios no Brasil. Vindo da Malásia, ele foi introduzido pela Secretaria de Agricultura paulista na década de 1950 e depois foi difundido para o restante do país. “O Brasil acertou ao trazê-lo, porque é produtivo e tem capacidade de adaptação a várias regiões, como São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás”, diz Scaloppi Junior. Porém, esse monocultivo representa um problema sanitário e já se verifica o aumento da população de ácaros e percevejos-de-renda, que se adaptaram ao material e acabam interferindo na produção.

A região do noroeste paulista, para a qual os clones foram desenvolvidos, não sofre com o mal das folhas, que dizimou a produção na Fordlândia – cidade erguida pela empresa americana Ford nos anos 1920, no Pará, para abastecer a empresa do látex necessário à confecção de pneus. Por isso, os materiais foram avaliados quanto a doenças de painel de sangria, como antracnose, e mostraram resistência. O IAC 500, o IAC 503 e o IAC 509 oferecem casca mais espessa, o que os tornam também menos suscetíveis a ferimentos no momento da extração da borracha. Há ainda clones com dupla aptidão, ou seja, para produção de látex e madeira, já que, com o término do ciclo da seringueira (em cerca de 30 anos), a exploração da madeira possibilita renda extra ao agricultor.

Maior produtor do país, São Paulo possui 90.000 hectares de seringueiras e oferta 70.000 toneladas de látex ao ano. No entanto, a extração nacional (que corresponde a apenas 1% do total mundial) ainda está muito aquém da demanda: o Brasil se vê obrigado a gastar cerca de R$ 500 milhões anuais com importações. “Para atingir a autossuficiência, temos de triplicar os seringais”, afirma o pesquisador da Apta. O custo médio de produção no Estado é de R$ 5.380 no primeiro ano e mais R$ 1.500 como manutenção até que comece a sangria.

Os novos clones estão em processo de registro no Ministério da Agricultura e a previsão é que estejam à disposição dos agricultores dentro de dois anos. Os novos materiais já estão sendo testados na região de Ribeirão Preto e a expectativa é expandir os estudos para outras unidades de pesquisa da secretaria.

A ameaça dos nematóides

No passado, prevalecia a ideia de que seringueiras eram tolerantes aos nematoides – plantios feitos em cafezais infestados não desenvolveram a doença. Entretanto, tem aumentado a preocupação com o problema, que atinge a raiz do vegetal e pode impactar na produtividade. Uma empresa que produz e comercializa borracha natural em Jales (SP) notificou a Secretaria de Agricultura de São Paulo sobre um seringal em Itiquira (MT) que estaria infestado e representaria risco de contaminação dos plantios do Estado, posto que o látex produzido lá é transportado para uma empresa paulista.

De acordo com a Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), a contaminação pelos meios de transporte é difícil, mas não impossível. “É provável que um nematoide não sobreviva às altas temperaturas do pneu de caminhão”, diz o pesquisador Napoleão de Souza.

Marcos Bernardes, professor do Departamento de Produção Vegetal da Esalq/USP, explica que é improvável a disseminação sem ser por mudas, mas diz que certos nematoides têm formas de resistência que poderiam persistir, principalmente se inseridos em um pedaço de planta preso ao pneu ou na carroceria. “E, como alguns têm o hábito de deixar os coágulos no solo antes de recolher em caixas, pode ser que ocorra aderência desses nematoides ao coágulo também, que depois poderia disseminar a praga em outros seringais”, explica.

Elivair Ferreira Marques, administrador da fazenda em Itiquira, rebate a possibilidade de infestação e garante que todo o coágulo produzido na área é lavado e triturado. “Além disso, a coleta do campo é feita por carretas basculantes tracionadas por tratores, enquanto as carretas bitrens, que fazem o trajeto para São Paulo, são lavadas e recebem um produto isento de contaminantes”, diz.

Na avaliação do professor da Esalq, os produtores devem estar atentos à forma de transporte da borracha. “É importante que eles tomem o cuidado de armazenar o produto fora do seringal e, ao embarcá-lo, o façam em área onde não é possível ocorrer a infestação, além de lavar ou desinfetar pelo menos os pneus dos caminhões”, adverte.


Fonte: portaldoagronegocio.com.br

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