31.8.10

Fundos criticam, mas já estudam alternativas

Marcelo Sales, co-gestor dos fundos florestais da Claritas, afirmou que a limitação à propriedade de terra por estrangeiros poderá ter impacto na expansão de projetos industriais que precisam de madeira para crescer. É o caso dos setores de papel e celulose e aço, afirmou. A Claritas foi uma das empresas que fez reuniões com advogados, ontem, para entender o efeito da decisão do governo. A decisão do governo de limitar a compra de terras por empresas brasileiras controladas por estrangeiros foi mal recebida por gestores de fundos de investimento em florestas que têm participação de capitais externos. Administradores de fundos florestais ainda tentavam entender, ontem, com a ajuda de advogados, o alcance da medida. Gestores ouvidos pelo Valor avaliaram que a limitação da propriedade da terra por estrangeiros é negativa para a imagem do Brasil no exterior. Outro impacto poderá ser a redução dos fluxos de investimentos para compra de terras e a formação de florestas no país. Henrique Aretz, diretor de investimentos da Brazil Timber Investment Management, gestora de investimentos do grupo Brazil Timber, avaliou que o maior efeito da restrição é institucional: "O principal problema da limitação está no reflexo da medida sobre a imagem ainda frágil do Brasil como porto seguro para investimentos." Aretz disse que do ponto de vista prático é possível criar alternativas para contornar a restrição e permitir que os estrangeiros continuem a investir. Entre as opções estudadas, estariam o arrendamento de terras e o estabelecimento de parcerias com proprietários de áreas produtivas no Brasil. A Brazil Timber vem analisando formar um fundo offshore para investimento exclusivo em florestas no Brasil, mas as notícias que vinham surgindo sobre uma possível restrição já tinham levado a empresa a adiar a estruturação do fundo ao passo em que se aprofundavam os contatos com os investidores. Agora, diz Aretz, será preciso reanalisar a forma como o fundo será montado. A Brazil Timber não é o único fundo interessado em investir em florestas no Brasil. Como o Valor já noticiou, fundos nacionais e estrangeiros têm comprometidos cerca de R$ 4,5 bilhões em investimentos em projetos independentes de produção de madeira no mercado brasileiro. A lógica dos fundos é formar florestas e fechar contratos de venda com consumidores de madeira como indústrias de papel e celulose, móveis e ferro-gusa. Esse é um negócio novo no país, que tem atraído investidores estrangeiros e também brasileiros, como fundos de pensão, em uma visão de longo prazo. Em geral, os fundos florestais trabalham com um retorno, em reais, entre 8% e 14% ao ano. Nesse cenário, os chamados "Timos" (sigla em inglês de Timberland Investment Management Organization), fundos de investimento florestais internacionais, desembarcaram no Brasil para concorrer com fundos de investimento nacionais. Fábio Brun, diretor para América do Sul da Resource Management Service (RMS), um dos maiores "Timos" do mundo, disse que a empresa ainda está tentando entender a profundidade e o impacto da decisão do governo. "Não sabemos ao certo o tipo de impacto, mas sabemos que ele existe", disse Brun. Ele avaliou que a decisão de que terras pertencentes a empresas brasileiras controladas por estrangeiros não poderão ultrapassar 25% da área de um município (mesma regra que já vale para o investidor estrangeiro pessoa física ou jurídica) terá impactos diferentes dependendo da região do país. Isso porque, segundo ele, há Estados como o Paraná com um número muito maior de pequenos municípios do que outros, como o Pará. A RMS investiu em florestas no Brasil em benefício do fundo de pensão dos professores de Ontário, no Canadá, o OTPP. A RMS está constituindo um fundo global com um grupo de investidores para investimento em florestas no Brasil, China, Austrália e Nova Zelândia. Segundo Brun, o fundo vai continuar a existir, mas existe boa chance de que o valor a ser destinado ao Brasil seja redirecionado para outro país. Marcelo Sales, co-gestor dos fundos florestais da Claritas, afirmou que a limitação à propriedade de terra por estrangeiros poderá ter impacto na expansão de projetos industriais que precisam de madeira para crescer. É o caso dos setores de papel e celulose e aço, afirmou. A Claritas foi uma das empresas que fez reuniões com advogados, ontem, para entender o efeito da decisão do governo. Fonte: Valor Econômico citado por FAEMG

30.8.10

Vale anuncia fundo de reflorestamento para 450.000 hectares

O fundo pretende proteger e recuperar 300.000 hectares de florestas nativas com madeiras nobres e destinar 150.000 hectares ao plantio comercial de eucalipto. A mineradora brasileira Vale anunciou nesta quarta-feira a criação de um fundo misto de reflorestamento, para exploração comercial e recuperação ambiental, no valor de 605 milhões de reais destinado a plantar 450.000 hectares de árvores no Brasil até 2022. O fundo pretende proteger e recuperar 300.000 hectares de florestas nativas com madeiras nobres e destinar 150.000 hectares ao plantio comercial de eucalipto. Os investidores são a própria Vale, que terá 40% do fundo, associada aos fundos de pensão Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com uma fatia de 20% cada. O objetivo é financiar o projeto de reflorestamento Vale Florestar, criado em 2007 pela mineradora e que já recuperou 70.000 hectares. "Conseguimos parceiros para acelerar um plano que temos tocado há algum tempo", afirmou Agnelli em coletiva de imprensa na sede da empresa, no Rio de Janeiro. "Pretendemos criar alternativas econômicas para a população das regiões de florestas que não seja simplesmente queimar a madeira (existente) para fazer carvão", disse Agnelli. O executivo garantiu o potencial de rentabilidade do fundo, já que no Brasil existe um déficit anual de 2 milhões de metros cúbicos de madeira. "A madeira será vendida a indústrias de celulose, confecção de móveis e outros", disse. O Brasil conta com 3,2% das florestas comerciais do mundo, contra 32,7% da China e 10% de Estados Unidos e Índia, destacou Onito Barbosa, diretor da Global Equity, gestora do fundo. O presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, explicou que existem outros fundos de pensão estrangeiros, como o Calpers, dos funcionários públicos da Califórnia (EUA), que já investem em reflorestamento no sul do Brasil. A criação do fundo ainda requer autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O presidente da Vale afirmou ter planos de replicar esse projeto em outros países em que a mineradora atua, como Moçambique e Indonésia, nações que registram altos índices de desmatamento. Depois de chegar a níves de desflorestamento de 30.000 km2 anuais no início da década, em 2009 o Brasil conseguiu baixar para 7.000 km2 a área da Amazônia devastada. O desmatamento contribui para tornar o país o quarto emissor mundial de gases de efeito estufa. A destruição das florestas, que libera toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, é a causa de cerca de 20% das emissões mundiais de gases que provocam o efeito estufa. Fonte: UAI

29.8.10

Pesquisadores debatem resultados do sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)

Catorze pesquisadores das Unidades da Embrapa do Amazonas, Pará, Rondônia, Acre, Amapá e Roraima estão em Boa Vista (RR), para realizar o balanço geral do projeto em rede sobre o Integração Lavoura Pecuária Floresta. O trabalho, que completa três anos agora, já é considerado um sucesso. Nesse período, os pesquisadores envolvidos implantaram experimentos em 15 campos ou fazendas nesses Estados, coletaram mais de 5000 amostras de solos e plantas, realizaram monitoramento de pragas e doenças e, em alguns casos, acompanharam os produtores parceiros até nos estudos econômicos. "Nesse encontro debateremos os resultados alcançados até agora e as novas diretrizes para Amazônia em relação ao projeto. Será uma oportunidade de ficarmos sabendo o que está acontecendo em cada Estado e trocarmos experiências", explica Amaury Bendahan, responsável pelo trabalho em nossa Unidade. Além das reuniões no auditório da Nucepe (Sebrae), os participantes visitarão os experimentos técnicos nos campos Água Boa e Serra da Prata. O encontro, de 16 a 19 de agosto, aconteceu com custeio do Finep e da Bunge. O que é ILPF ? A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é um sistema de produção que abriga culturas anuais como milho, arroz, feijão ou soja consorciados com forrageiras e árvores. Tudo simultaneamente ou em seqüência ou ainda de forma rotacionada. O modelo é recomendado para áreas degradadas ou já alteradas. Nos três primeiros anos do sistema, são usadas culturas nas entrelinhas dos plantios das árvores mais adaptadas à região. Após a colheita dos grãos, no terceiro ano, a pastagem está formada entre as espécies arbóreas, momento em que os animais, bovinos ou ovinos, entram no sistema. Para que serve? -Recuperar áreas degradadas -Produzir com sustentabilidade -Intensificar o uso da terra -Aumentar a eficiência na utilização de máquinas e equipamentos -Otimizar o uso da mão-de-obra -Diminuir os impactos ambientais e riscos econômicos -Diversificar e verticalizar a produção -Diminuir os riscos de pragas e doenças nas plantações -Melhorar a qualidade dos solos e otimizar as fertilizações Quem pode usar? Pequenos, médios e grandes produtores podem se beneficiar da integração lavoura-pecuária-floresta, com o aumento da produtividade dos cultivos e criações. Fonte: Embrapa Roraima

28.8.10

Espécies brasileiras mostram potencial para a produção de biodiesel

A diversificação das matérias-primas para a produção do biodiesel é um dos principais interesses do setor agroenergético. Hoje cerca de 80% do combustível vem da soja, que apresenta desvantagens como um rendimento menor que uma tonelada de óleo por hectare. Na busca por novas matérias-primas, uma pesquisa da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – tem apontado para o potencial de três plantas brasileiras: a macaúba, o inajá, o tucumã. Segundo o pesquisador da Embrapa Cerrados – Unidade da Empresa localizada em Planaltina (DF) – Nilton Junqueira, que coordena a pesquisa, os estudos se iniciaram em 2007 com a avaliação de diversas plantas. Algumas delas, no entanto, já foram descartadas, pois apresentam baixa produtividade de frutos ou alta incidência de pragas e doenças. É o caso do babaçu, da andiroba arbórea e do baru. “É inviável economicamente investir nelas sendo que há alternativas que apresentam melhor desempenho”, defende. Já as plantas que apresentaram frutos com mais potencial de produção de óleo agora dependem de outros fatores para serem indicadas pela pesquisa como uma boa opção de matéria-prima para o combustível. “O que vai determinar se é interessante ou não investir nelas agora é a viabilidade econômica da lavoura e o balanço energético”, afirma. Esse último fator determina quantas unidades de energia são gastas para produzir uma unidade de energia, o que varia de acordo com a matéria-prima. No caso do etanol, por exemplo, gasta-se uma unidade de energia para produzir 8,3 e na soja, gasta-se uma unidade de energia e produz 1,45. Palmáceas – Na pesquisa, as três plantas que apresentaram melhor potencial até agora são palmeiras. Além de produzirem uma grande quantidade de biomassa e terem bom óleo, elas apresentam como vantagens a rusticidade e a possibilidade de serem cultivadas em consórcio com pastagem. “Para produzi-las não é necessário deslocar a produção de alimentos, e o produtor pode pleitear crédito de carbono por ser uma floresta nativa” avalia Nilton. Segundo o pesquisador, outra vantagem que deve contribuir para a domesticação dessas plantas é que todas as palmáceas ao longo dos anos se evoluíram em maciços (agrupamentos de árvores da mesma espécie). Isso é forma de escapar de pragas e doenças, pois nessas formações as pragas e doenças que existem no ambiente co-evoluíram com a planta, o que a deixa mais tolerante. Opções em estudo - Outras plantas ainda continuam sob avaliação, como é o caso do pequi e a andiroba de rama, também conhecida como fevilha. O estudo dessas duas espécies ainda depende de mais tempo para que seja verificado o potencial do fruto. Segundo Junqueira, o pequi tem uma característica interessante, por produzir em solos de baixa fertilidade. Já a fevilha ocorre em todo o país e tem alto teor de óleo. Outra espécie que também continua em avaliação é o pinhão-manso. Apesar da boa qualidade do óleo, as principais dificuldades da planta são as doenças e a colheita manual. Junqueira explica que é preciso ainda investir em tecnologias para a mecanização da colheita, da qual depende a viabilidade econômica da cultura. Com o envolvimento de 130 pesquisadores da Embrapa além de especialistas de outras empresas de pesquisa e universidades, o estudo buscou entre as populações nativas em todo o Brasil alguns exemplares das plantas sob avaliação. Com elas foram formados bancos de germoplasma, que reúnem diferentes materiais genéticos das espécies estudadas. Ao mesmo tempo, foram coletados os frutos delas para verificar o teor e a qualidade do óleo. Foi avaliada também a ecologia das plantas – o solo, a altitude, outras espécies de vegetação próximas, entre outros fatores. Por fim, como são plantas nativas, foi iniciado um processo de domesticação delas, para que no futuro elas possam ser cultivadas pelo produtor rural. No caso do balanço energético, a análise determina quantas unidades de energia são gastas para produzir uma unidade de energia. No caso do etanol, gasta-se uma unidade de energia para produzir 8,3 e na soja, gasta-se uma unidade de energia e produz 1,45. Fonte: Embrapa Cerrados

27.8.10

Plantio florestal é destaque em seminário do Programa Agricultura de Baixo Carbono

Hoje, é crescente a conscientização da sociedade em geral com relação à necessidade de preservação e conservação dos recursos naturais do planeta, tornando-se com isso imprescindível a busca por fontes energéticas renováveis capazes de substituir as fontes não renováveis. O pesquisador Antônio Francisco Jurado Bellote, da Embrapa Florestas (Colombo/PR), participou na última semana do Seminário de Difusão do Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono), promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária a Abastecimento (MAPA). Em sua palestra, o pesquisador tratou do assunto “Plantio de florestas para produção de energia no Brasil: perspectivas e aspectos silviculturais”. O evento, que se propõe a difundir práticas que estimulem um novo enfoque à agricultura sustentável, por meio de ações que reduzam o aquecimento global, aconteceu nos dias 17 e 18 de agosto, no Auditório Assis Roberto de Bem, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (W/5 Norte, final), Brasília/DF. Hoje, é crescente a conscientização da sociedade em geral com relação à necessidade de preservação e conservação dos recursos naturais do planeta, tornando-se com isso imprescindível a busca por fontes energéticas renováveis capazes de substituir as fontes não renováveis. Neste cenário, a biomassa poderá ser, em um futuro próximo, a base da energia renovável, fundada em biomassa florestal e/ou agrícola, para geração de biocombustíveis e como insumo para a indústria química. No caso da biomassa florestal, originada em plantios florestais, além de ser obtida de fonte renovável, tem balanço nulo no efeito estufa quando usada para produção de energia e é excelente fixadora de carbono quando empregada para outros fins. Segundo Bellote, “o uso da biomassa para seqüestro de carbono é ponto pacífico. Estima-se que entre 60 e 87 bilhões de toneladas de carbono poderão ser estocadas em florestas, entre 1990 e 2050, equivalendo a 12-15% das emissões por combustíveis fósseis no mesmo período”. Bellote afirma ainda que “outra vantagem potencial de emprego de biocombustíveis é a possibilidade de inserção do país no mercado de créditos de carbono”. A idéia central estaria embasada na venda de créditos de CO2 equivalente não emitido ou sequestrado. “Embora se saiba desse potencial, faz-se necessário investigar esta questão com maior detalhamento, mapeando oportunidades e riscos, além de subsidiar a elaboração de projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), no intuito de se avaliar o que tais projetos agregariam ao país, não só no que se refere a aspectos econômicos, como de sustentabilidade social e ambiental”, completa. Para que a biomassa florestal possa efetivamente ocupar seu espaço neste cenário, é necessário investir em plantios florestais. O Brasil é um dos líderes na produção de biomassa de florestas plantadas pelo enorme sucesso na silvicultura, no melhoramento genético e na produção de mudas por sementes e processos clonais, sendo o eucalipto o gênero mais utilizado para geração de energia. No entanto, hoje já é observada uma falta de madeira oriunda de plantios florestais para atender a demanda atual. Por isso é necessário uma estruturação para o desenvolvimento de plantios florestais. A estratégia de execução envolve, além de organizações governamentais estaduais, através das Secretarias e suas vinculadas, organizações não governamentais, os setores produtivos, órgãos do governo federal, cooperativas, universidades e unidades da Embrapa. “Tais instituições”, salienta Bellote, “apresentam papel chave no desenvolvimento do setor florestal regional, atuando de forma integrada para desenvolver ações que solucionem os problemas relacionados à inclusão de produtores e dos produtos florestais como componente significativo ao desenvolvimento local”. Fonte: Embrapa Florestas

26.8.10

Água, agricultura e meio ambiente

"Alcançar níveis que conduzam à sustentabilidade ambiental constitui o maior desafio de toda a humanidade" Marco Antonio Ferreira Gomes e Lauro Charlet Pereira * Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente A água é um recurso natural essencial para a sustentação da vida e do meio ambiente. Ela desempenha um papel importante no processo de desenvolvimento econômico e social de um país, sendo, historicamente, um dos principais fatores limitantes para o crescimento e desenvolvimento econômico das civilizações. Entre os fatores que mais têm afetado esse recurso estão o crescimento populacional e os setores produtivos, entre os quais a agricultura. Essa situação tem conduzido a uma reformulação da concepção do gerenciamento da água, apresentando desafios às entidades de ensino, pesquisa e extensão, aos órgãos governamentais e não governamentais. A discussão de temáticas sobre recursos hídricos, com o envolvimento da agricultura e do meio ambiente, é fundamental para a conscientização, objetivando a gestão viável e eficaz desses recursos, sobretudo com visão futura quanto ao legado a ser deixado para as gerações vindouras. A agricultura, ao mesmo tempo em que é taxada de grande consumidora de água e como atividade de risco de contaminação do meio ambiente por agroquímicos, e assim entendida por muitos como uma “vilã dos recursos hídricos”, é também aceita como um dos principais provedores de serviços ambientais, embora geralmente esses ainda não sejam reconhecidos e remunerados. Adicionalmente à sua função essencial em atender a demanda crescente por alimentos e outros produtos agrícolas, a agricultura tem papel importante no “sequestro de carbono”, com minimização de efeitos adversos das mudanças climáticas, na gestão de bacias hidrográficas e na preservação da biodiversidade. Assim, diante do exposto, fica evidente a necessidade de pesquisas constantes e pertinentes ao tema, aliadas à adoção de ações efetivas, com envolvimento de todos os segmentos da sociedade; sabe-se, teoricamente, que as soluções estão embasadas nos princípios da sustentabilidade do setor agrícola, cujo fundamento está alicerçado na integração das três vertentes básicas – equilíbrio ambiental, viabilidade econômica e justiça social. O desafio básico então está em combinar reformas políticas e inovações tecnológicas que atendam as agendas de agricultura e de meio ambiente, sem conflitos e interesses específicos, diferentemente do que ocorre hoje no Brasil, com o embate político envolvendo Código Florestal e Código Ambiental. Portanto, alcançar níveis que conduzam à sustentabilidade ambiental constitui o maior desafio de toda a humanidade e, certamente, haverá um custo muito elevado se tal desafio não atingir os objetivos propostos em um espaço de tempo relativamente curto. O cenário mundial atual mostra que o uso da água é muito mais intenso do que há poucas décadas atrás. Atualmente, a média mundial é que da água doce utilizada, 70% destina-se à agricultura, 20% à indústria e 10% para o consumo humano. Esse uso intenso da água, principalmente na agricultura e na indústria, ocorre num ritmo mais acelerado que a reposição feita pelo ciclo natural das águas. Dessa forma, muitos mananciais estão sendo extintos em decorrência do uso indiscriminado e predatório. O impacto na saúde humana e no meio ambiente é uma tragédia. Portanto, a chamada “crise da água” é de quantidade e qualidade, não por razões naturais, mas pelo uso irresponsável que o ser humano dela faz. Mesmo havendo água suficiente no planeta para todos os seres vivos, desde que gerenciada com sustentabilidade, sua distribuição é desigual. Os países mais pobres em água sofrem com sua escassez particular. Na outra ponta, continentes, como é o caso da América Latina, têm abundância de água doce. Para exemplificar, o Peru é um país que está no parâmetro de “suficiente”. Sua disponibilidade per capta de água hoje é de aproximadamente 1.790 m³ por ano. Entretanto, a projeção é que no ano de 2025 sua disponibilidade caia para 980 m³ por pessoa anualmente. Deixaria de estar na faixa de suficiente para a situação de estresse. Já países como Brasil, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Argentina e Chile situam-se no parâmetro de países “ricos”, isto é, têm entre 10 mil e 100 mil m³/pessoa/ano. Já a Guiana Francesa situa-se na faixa dos "muito ricos", isto é, acima de 100 mil m³/pessoa/ano. O Brasil detém cerca de 12% da reserva hídrica do Planeta, com disponibilidade de 182.633 m³, além de possuir os maiores recursos mundiais, tanto superficiais (bacias hidrográficas do Amazonas e Paraná) quanto subterrâneos (bacias sedimentares do Paraná, Piauí, Maranhão). Todo esse potencial tem o reforço de chuvas abundantes em mais de 90 % do território, aliadas a formações geológicas que favoreceram a gênese de imensas reservas subterrâneas. Todavia, esse potencial hídrico é distribuído de forma irregular pelo país. A Amazônia, por exemplo, onde estão as mais baixas concentrações populacionais, possui 78% da água superficial. Enquanto isso, no Sudeste, essa relação se inverte: a maior concentração populacional do País tem disponível 6% do total da água. Mesmo na área de incidência do Semi-Árido (10% do território brasileiro) não existe uma região homogênea. Há diversos pontos onde a água é permanente, indicando que existem opções para solucionar problemas sócio-ambientais atribuídos à seca. As perspectivas de mudança e o surgimento de novos cenários dentro do ambiente agrícola se darão, necessariamente, em função das alterações do clima, as quais afetarão sensivelmente, não só a disponibilidade de água, mas a sobrevivência de diversas espécies. Os próximos anos, já a partir de agora, em que se espera perda de produção e de produtividade das lavouras e pastagens, haverá necessidade de esforços extras da ciência e da tecnologia para produzir alimentos. A escassez de água obrigará, necessariamente, a adoção de técnicas mais racionais de irrigação e com o máximo de aproveitamento (eficiência) dos recursos hídricos. Diante do exposto, deve-se considerar a importância do avanço tecnológico, principalmente na área de biotecnologia e do melhoramento genético, aliadas aos aspectos de sustentabilidade ambiental, saúde pública e qualidade de vida. No ambiente agrícola, por exemplo, é imprescindível a adoção de técnicas e procedimentos que protejam o solo e a água, seja em relação aos processos erosivos, de contaminação e mesmo de perda excessiva de umidade. Fonte: Estado de Minas

25.8.10

Aquecimento pode estar por trás de secas no Brasil

Eventos climáticos extremos são esperados em fases de mudança global. Projeções apontam que picos de secura vão ficar mais comuns em regiões como Nordeste; também ocorre variação natural. Está acontecendo agora, provavelmente vai acontecer de novo. Para cientistas, os extremos climáticos, como a secura que turbina queimadas no Centro-Oeste e na Amazônia, podem estar ligados ao aquecimento global. O mesmo vale para as enchentes que deixaram 20 milhões de desabrigados no Paquistão nas últimas semanas, ou para a seca na Rússia, a pior da história, que devastou as plantações de trigo e fez aumentar o preço do pão até no Brasil. Claro, nenhuma dessas catástrofes pode ser atribuída de forma específica às mudanças climáticas globais. É difícil separar os efeitos do aquecimento causado pelo homem da variabilidade natural do clima quando se trata de casos isolados. "Mas o que se pode dizer é que a frequência com que eventos climáticos extremos ocorrem tende a aumentar", afirma o físico Paulo Artaxo, da USP. Desse ponto de vista, a secura no interior do país, e em especial na região amazônica, é o esperado. "Os modelos climáticos [projeções do clima futuro feitas em computador] projetam secas maiores no centro e no leste da Amazônia e no Nordeste", afirma o climatologista José Antonio Marengo, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). "No Centro-Oeste haveria mais ondas de calor", disse Marengo, que ontem participava de um evento sobre mudança climática e desertificação em Fortaleza. ENERGIA EXTRA Artaxo, da USP, lembra que o primeiro fator responsável por estimular eventos climáticos fora do comum num planeta mais aquecido é a energia sobrando. "Você injeta energia extra no sistema ao aquecer a atmosfera. E essa energia precisa ir para algum lugar", afirma. Outro ponto crucial, segundo Marengo, é o fato de que continentes e oceanos esquentam a taxas diferentes - é mais difícil esquentar uma massa de água do que a mesma massa de terra. Como o ciclo da chuva e o dos ventos depende muito dos mares, a diferença mais acentuada de temperatura entre oceano e continente pode levar a mais vendavais e mais tempestades. "É como se houvesse uma aceleração no ciclo hidrológico, como se ele virasse um carro andando em quinta." A estiagem deste ano ainda não virou uma catástrofe no Brasil. "Está só um pouco mais seco do que a média", diz o climatologista Carlos Nobre, também do Inpe. Já a onda de calor russa tem tudo para virar um estudo de caso, como o evento semelhante que matou 30 mil pessoas na Europa em 2003. Segundo Nobre, ambas as ondas de calor foram causadas por bloqueios atmosféricos. "É como se fosse uma bola sobre a região, que não deixa o ar frio entrar." Nobre diz que não há nenhuma boa teoria ligando os bloqueios atmosféricos ao aquecimento global. Mas cita estudos depois da onda de 2003, mostrando que a probabilidade de ela ter a ver com o fenômeno era de 80%. No caso da Rússia, essa possibilidade é menor, afirma. Fonte: Folha de São Paulo citado pela FAEMG

23.8.10

Programa Agricultura de Baixo Carbono começa a liberar recursos em setembro

Iniciativa deve destinar R$ 2 bilhões para o incentivo do uso de técnicas sustentáveis no campo. O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou nesta terça-feira (17/08) a instituição do Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC). A resolução do Banco Central, que regulamenta o ABC, confirma os R$ 2 bilhões anunciados pelo ministro Wagner Rossi em junho, durante o lançamento do programa. Do total, R$ 1 bilhão será operado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o restante pelo Banco do Brasil. De acordo com o diretor de Economia Agrícola do Ministério da Agricultura, Wilson Araújo, o próximo passo é a publicação de uma portaria do Ministério da Fazenda para autorizar a equalização dos juros do programa, fixados em 5,5% ao ano. “Além disso, o BNDES irá enviar circular com as regras da linha de crédito para os agentes financeiros que vão operar os recursos”, afirma. A expectativa do ministério é que até o início de setembro os recursos estejam disponíveis para o produtor rural. O Banco do Brasil contrata o financiamento diretamente por meio de suas agências. O programa ABC faz parte das ações do Plano Agrícola e Pecuário 2010/2011 e foi instituído para incentivar o uso de técnicas sustentáveis que tragam mais eficiência ao campo e permitam a redução da emissão dos gases de efeito estufa. Fonte: Globo Rural Online

22.8.10

Programa de Incentivo às Reservas Particulares recebe inscrições até 31 de agosto

niciativa destinará R$ 350 mil para a criação de RPPNs da Mata Atlântica e de planos de manejo. Proprietários de terras e organizações não governamentais (ONGs) podem se inscrever até 31 de agosto para concorrer ao 9º Edital de Projetos do Programa de Incentivo às Reservas Particulares do Patrimônio Natural da Mata Atlântica (RPPNs). Coordenado pelas ONGs Conservação Internacional, Fundação SOS Mata Atlântica e The Nature Conservancy, o programa vai destinar R$ 350 mil para projetos de criação de RPPNs e para a elaboração de planos de manejo. O apoio será de até R$ 10 mil para cada reserva e de até R$ 30 mil por proposta de plano de manejo. No último edital, realizado no ano passado, o programa recebeu 90 propostas, sendo que 30 foram aprovadas e receberam recursos no valor total de R$ 300 mil. Criado em 2003, o programa colaborou para a criação de 381 RPPNs e 78 projetos ligados à gestão dessas unidades ambientais, resultando na proteção de 43 mil hectares do bioma brasileiro. Levantamento feito com base em pesquisas sobre 127 unidades desse tipo mostra que as RPPNs têm uma contribuição importante para a preservação de espécies da Mata Atlântica. As áreas detêm pelo menos 3 mil espécies de plantas e animais, além de 24% da fauna e 13% da flora brasileira ameaçadas de extinção. Além das condições biológicas apresentadas pela área candidata a se transformar em uma RPPN, o programa avalia outros critérios na seleção dos projetos vencedores, como a contribuição para a conservação da biodiversidade, a presença de recursos hídricos e de espécies raras ou ameaçadas de extinção, a relevância da área no contexto regional, a proximidade com outra unidade de conservação. No edital deste ano, foi inserido também o critério da fisionomia vegetal. “Porque o bioma Mata Atlântica tem diversos ecossistemas associados. E esses tipos de vegetação não estão todos bem representados na nossa rede de unidades de conservação. Então, esse também vai ser um critério na seleção e avaliação das propostas para esse edital, de forma que todos os tipos de ecossistemas sejam contemplados”, diz Mariana. A divulgação dos ganhadores será feita no fim de outubro, dando início à execução dos projetos, que terão um ano para a realização das atividades. Mais informações podem ser obtidas por meio do programarppn@sosma.org.br. De acordo com o Cadastro Nacional de RPPNs, o Brasil tem 930 reservas particulares, totalizando área de 670 mil hectares, que envolve todos os biomas (Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Amazônia, Pantanal). Desse total, 67%, ou o equivalente a mais de 600 reservas, são de Mata Atlântica e ajudam na proteção de 130 mil hectares. Fonte: Globo Rural Online, com informações da Agência Brasil

21.8.10

Além do código florestal

Não interessando de que lado do debate da reforma do Código Florestal se está, pelo menos um consenso existe entre os interessados no assunto: tanto o código vigente quanto o novo, em discussão no Congresso Nacional, carecem de ciência que dê suporte às obrigações impostas sobre o setor produtivo. á passou da hora de deixar os argumentos emotivos de lado - do tipo "coitados dos produtores de café do sul de Minas Gerais, porque agora todos eles são bandidos" e "coitados dos cientistas bonzinhos que ficaram alijados do processo de discussão da reforma porque nem sequer foram consultados" - e partir para um debate com base mais fatos do que em crenças, no qual as segundas intenções "saem do armário". Do argumento retórico de que agropecuária e meio ambiente podem conviver em harmonia num mundo ideal, como propagado pelo Talking Heads em (Nothing but) Flowers, é preciso reconhecer que o equilíbrio entre produção agropecuária e conservação resulta de um choque de concessões de ambos os lados. Os dois grandes temas que sustentam a discussão da reforma do Código Florestal são o chamado "passivo ambiental" e o controle do desmatamento. A regra de bolso é que o passivo precisa ser resolvido - lembrando que não há como definir, preto no branco, quais produtores atuais são responsáveis diretos por ele, embora saibamos que muitos deles são e outros tantos, não - sem estimular avanço na fronteira. Melhor dizendo, orientando o avanço na fronteira nas regiões onde isso faz sentido, mas com taxas de conversão muito menores do que as vistas no Brasil nos anos passados. É preciso que se diga que resolver o passivo não significa isentar os produtores das suas obrigações com a reserva legal e, sobretudo, com as áreas de preservação permanente (APPs), tampouco estipular desmatamento zero em todos os biomas, mesmo que apenas para um período de cinco anos. Um argumento-chave utilizado no debate é o da disponibilidade de terra. De um lado, argumenta-se que o cumprimento ao pé de letra do código reduziria a área disponível para produção agropecuária. De outro, que a expansão da agricultura pode ocorrer integralmente sobre pastagens sem a necessidade de incorporação de novas áreas na fronteira. O primeiro argumento está errado e o segundo é retórico. Feitos a partir de uma metodologia consistente e baseada no que se tem de melhor em tratamento de dados em sistemas de informação geográfica no Brasil, dados do professor Gerd Sparoveck me permitem concluir que ainda existem cerca de 36 milhões de hectares, sendo 68% (25 milhões de ha) nos Cerrados de Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia e Centro-Oeste, disponíveis para expansão do setor agrícola. Esse montante assume que as novas áreas a serem abertas respeitarão reserva legal e APPs e que estão localizadas em áreas com condições de declividade, solo e clima boas ou ótimas para a produção de grãos. Sem considerar as condições de aptidão, a disponibilidade pula para 79 milhões de hectares (51 milhões nos Cerrados). Considerando que na mata atlântica já é proibido desmatar e que um pacto pelo desmatamento zero no bioma Amazônia tem grandes chances de ser viabilizado, a área disponível para expansão é de 25 milhões de hectares, sendo a diferença em relação àqueles 79 milhões hectares a área que não faz sentido desmatar. O professor Gerd estima em 88 milhões de hectares o passivo, sendo metade de reserva legal e a outra metade em APPs. O Brasil deve abrir mão dos 25 milhões de hectares de Cerrado com uma moratória contra o desmatamento? Não. O Brasil vai gastar todo esse estoque de terra aumentando produção agrícola? Se depender do mercado, também não. Os dados do laboratório de sensoriamento remoto da Universidade Federal de Goiás (Lapig) indicam que o desmatamento médio anual dos Cerrados entre 2002 e 2007 foi de 551 mil hectares. Ou seja, para usar os 25 milhões de hectares no ritmo atual de expansão da fronteira - estou assumindo que todo o desmatamento dos Cerrados avaliado pelo Lapig foi fruto da expansão de grãos, em maior parte, e pastagens, em menor parte - serão necessários 45 anos. No futuro, no entanto, podemos esperar um ritmo de desmatamento inferior ao observado nos anos anteriores e, por consequência, maior crescimento de lavouras sobre pastagens. Não só porque a fiscalização está cada vez mais forte, mas também porque novas restrições serão impostas. Nesse sentido, no contexto do Estudo de Baixo Carbono para o Brasil coordenado pelo Banco Mundial, fizemos, no Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), uma projeção para a expansão do setor agrícola no País até 2030. Grãos, cana-de-açúcar e florestas plantadas vão necessitar de mais 14,9 milhões de hectares, sendo que as pastagens acomodarão cerca de 10 milhões. A diferença, 4,9 milhões, ocorrerá pela conversão de áreas de Cerrados. Dado que as projeções são de 2008 a 2030, estamos falando de um desmatamento anual médio de 200 mil hectares. Se o futuro for como estamos imaginando, precisaremos de 126 anos para "gastar" todo o Cerrado apto para produção agrícola com uma taxa de expansão deste setor que atende à crescente demanda mundial. Considerando os 51 milhões de hectares de Cerrado disponíveis, precisaremos de 3,5 gerações para usar toda a área disponível. A verdade é que o setor agrícola e os benefícios que ele traz para a sociedade brasileira e os consumidores mundiais vão além da discussão da reforma e até mesmo da existência do Código Florestal. Por razões de mercado, grande parte da expansão das lavouras vai ocorrer sobre as pastagens, promovendo a intensificação da pecuária propalada por todos os interessados no tema do Código Florestal. Manter a competitividade da agricultura de grãos do Brasil, no entanto, passa pelo uso inteligente das áreas de Cerrado, condição quase que exclusiva do Brasil no mundo. Temos 126 anos para administrar isso. Fonte: O Estado de São Paulo

19.8.10

Promoção da sustentabilidade em tempos de crise

Em tempos de aprofundamento da crise econômica, ecológica e social, a economia ecológica é chamada a promover análises integradas, propor idéias e conceitos inovadores, bem como apresentar soluções para os problemas de sustentabilidade. A Conferência da Sociedade Internacional de Economia Ecológica (ISEE 2010) será realizada de 22 a 25 de Agosto deste ano, nas cidades alemãs de Bremen e Oldenburg, e terá como assunto principal a promoção da sustentabilidade em tempos de crise. Os temas da Conferência da ISEE são a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, serviços ecológicos e biodiversidade, crescimento sustentável em países em desenvolvimento e uso de energias limpas e renováveis. Pesquisadores do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa participarão da Conferência apresentando os trabalhos “Forest Carbon Credits Generation in Brazil: The Case of Small Producers” (Geração de Créditos de Carbono no Brasil: o Caso dos Pequenos Produtores) e Economic Valuation of Ecosystem Services provided on farms from the Turvo Limpo River Watershed, Minas Gerais State, Brazil (Valoração Econômica de Serviços Ecossistêmicos prestados em propriedades rurais da Bacia Hidrográfica do Rio Turvo Limpo, MG, Brasil). Os trabalhos a serem apresentados respectivamente por Sabina Cerruto Ribeiro, doutoranda do programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal da UFV e Mariana Barbosa Vilar, MSc em Ciência Florestal – UFV e assessora do Polo de Excelência em Florestas, sob orientação do professor Laércio Antônio Gonçalves Jacovine resultam das pesquisas desenvolvidas neste departamento que buscam a inclusão dos recursos naturais no mercado econômico atual. O primeiro trabalho propõe idéias e soluções para facilitar a participação dos pequenos proprietários rurais brasileiros no mercado de créditos de carbono florestal. Já o segundo trabalho busca estimar um valor monetário para os bens e serviços ambientais prestados em propriedades rurais visando o pagamento por serviços ambientais como incentivo ao produtor rural que mantém os serviços ecossistêmicos em sua propriedade. Saiba mais em: http://www.isee2010.org Fonte: Por Cleverson de Mello Sant’Anna

18.8.10

A crítica da ciência ao novo Código Florestal

O evento na Fapesp: projeto não tem fundamentação científica, dizem especialistas. Especialistas reunidos na Fapesp contestam projeto em tramitação no Congresso Nacional e protestam contra a falta de participação da comunidade científica na elaboração do documento que interfere na biodiversidade brasileira Uma carta assinada por diversos cientistas e enviada à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e à Academia Brasileira de Ciências (ABC); documentos dirigidos a políticos; uma carta publicada na renomada revista Science; um encontro técnico-científico para debater os impactos que o novo Código Florestal poderá trazer à sociedade. Essas ações são apenas o começo de um embate que movimenta não só os ambientalistas, mas toda a comunidade científica brasileira. O texto do Projeto de Lei aprovado no início de julho por uma Comissão Especial da Câmara dos Deputados ainda será votado em plenário, o que só deverá ocorrer após as eleições. Mas, se depender dos pesquisadores presentes no debate realizado no dia 3 na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), muita coisa deverá ser revista no texto da nova legislação ambiental. “Impactos potenciais das alterações do Código Florestal Brasileiro na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos” foi o tema do evento. “Absurdo”, “um tiro no pé”, “sem fundamento científico”, “consolidação do desmatamento” foram alguns termos utilizados pelos cientistas para definir o substitutivo. Alguns dos mais renomados especialistas apresentaram estudos mostrando de que forma determinadas resoluções prejudicarão o equilíbrio hídrico, a recarga de aquíferos, a produção de peixes, a fauna, a flora, a biodiversidade em geral e a própria agricultura. Entre as resoluções mais polêmicas está a que reduz de 30 metros para 15 metros a faixa mínima estabelecida para conservação de áreas de proteção permanente (APPs), como as matas ciliares. Entre outras mudanças, o novo texto não considera mais topos de morros, montes, montanhas e serras como APPs e desobriga a recomposição vegetal de área desmatada até 22 de julho de 2008. Os ruralistas comemoraram a aprovação do PL porque este regulariza cerca de 60% das propriedades agrícolas, conforme declarou à imprensa o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho da Silva. Alguns negócios vinham sofrendo para viabilizar os Termos de Ajustamento de Conduta propostos pelo Ministério Público e órgãos ambientais. Além disso, o Decreto 6.514/08 impunha a toda a agricultura brasileira multas diárias de R$ 500,00 por hectare pela falta de averbação de Reserva Legal. Representantes de instituições de pesquisa e ensino não só analisaram os mecanismos por trás das propostas para o ambiente, mas também fizeram um meã-culpa por não terem agido antecipadamente na atualização do Código Florestal, em vigor desde 1965. Para alguns dos debatedores, o substitutivo teria sido baseado em “um ou outro trabalho científico escolhido a dedo”, com a chancela de “alguns pesquisadores pinçados isoladamente”, como frisou o professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP. “O protesto não é sobre a ausência de um modelo, mas sobre a total falta de consulta à comunidade científica. Precisamos colocar essas discussões num patamar institucional e toda a sociedade deve trabalhar na construção de uma nova proposta”, disse ao final dos debates o biólogo Thomas Lewinsohn, professor da Unicamp. “Todo o conhecimento científico da área ambiental foi ignorado”, disse Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Biota-Fapesp – programa que mapeia toda a biodiversidade do Estado de São Paulo. Joly, que coordenou os debates, disse que um grupo de trabalho constituído no âmbito das duas entidades mais representativas da comunidade científica, a SBPC e a ABC, encaminhará ao Congresso um documento delineado a partir dos resultados da reunião na Fapesp. Para dar seguimento ao debate, os participantes sugeriram um novo encontro, com a presença de políticos, imprensa e outros setores da sociedade. Além disso, as apresentações dos palestrantes deverão ser o ponto de partida para a produção de artigos científicos a serem submetidos para publicação na próxima edição da revista Biota Neotropica. Fonte: Sylvia Miguel, no Jornal da USP, publicada pelo EcoDebate, 16/08/2010

15.8.10

Fundo destinará mais de R$ 2 milhões para projetos florestais sustentáveis

O Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal (FNDF), gerido pelo Serviço Florestal Brasileiro, lança, nesta quinta-feira (12/8), as primeiras chamadas para a seleção de projetos a serem apoiados com recursos do fundo. A estimativa é destinar R$ 2,2 milhões, em 2010, para ações de fortalecimento do manejo florestal. O diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, Antônio Carlos Hummel, considera que o início das operações do FNDF torna completa a estratégia promovida pela Lei de Gestão de Florestas Públicas, ao disponibilizar um fundo específico para apoio ao setor florestal. "A cooperação do FNDF com o Fundo Nacional do Meio Ambiente [FNMA], com a Diretoria de Florestas do Ministério do Meio Ambiente e com o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade] foi fundamental para uma adequada concepção das chamadas e demonstra a sintonia dos diversos órgãos em torno deste novo instrumento de fomento", afirma. Os projetos poderão ser apresentados por instituições públicas e privadas sem fins lucrativos. O prazo para entrega das propostas vai até 12 de setembro e o resultado da seleção sairá em 8 de outubro. Ao todo são quatro chamadas, estabelecidas de acordo com as prioridades do Plano Anual de Aplicação Regionalizada para 2010, que contou com a recomendação do Conselho Consultivo do FNDF. As áreas escolhidas envolvem as regiões de atuação de três das quatro unidades regionais do Serviço Florestal. "São locais onde nossas equipes podem acompanhar e dar apoio direto às estratégias", explica o coordenador do FNDF, João Paulo Sotero. Duas chamadas promovem as melhores práticas de produção de sementes e mudas de espécies florestais nativas para restauração da Mata Atlântica na região Nordeste. Os projetos beneficiarão os produtores de sementes e produtores de mudas com programas de capacitação e assistência técnica. Outras duas chamadas apoiam o desenvolvimento do manejo florestal, em áreas de assentamentos na Caatinga do estado do Piauí e em Reservas Extrativistas (Resex) na região Norte. Nestas chamadas, o foco é aprimorar ou incrementar as atividades de manejo florestal, por meio da capacitação e assistência técnica. A estratégia proposta neste primeiro ano da atuação do FNDF envolve o lançamento de chamadas para selecionar os beneficiários. Em seguida, eles serão apoiados por intermédio da participação em processos de capacitação e de assistência técnica, contratados por licitação pública para atender especificamente às demandas das comunidades. Segundo o gerente de Fomento do Serviço Florestal, Marco Conde, este procedimento promove uma grande simplificação no acesso ao fornecer às comunidades serviços especializados especialmente contratados para apoio a suas atividades. " Com isso evitamos os processos de transferência de recursos e o peso dos seus procedimentos administrativos, que oneram principalmente as organizações menos estruturadas", afirma Conde. FNDF - O Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal foi instituído pela Lei de Gestão de Florestas Públicas (11.284/2006) e regulamentado em maio deste ano com a publicação do Decreto Nº 7.167/2010. Sua principal fonte de recursos é a arrecadação com as concessões florestais, mas já neste ano conta com o apoio de parceiros. Dos R$ 2,2 milhões disponíveis para as chamadas, além dos recursos originados nas concessões florestais também foram agregados recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente, da Diretoria de Florestas do Ministério do Meio Ambiente, do Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade e de emendas parlamentares. De acordo com Sotero, com a ampliação das áreas de florestas públicas destinadas à concessão para manejo florestal, prevista para 2015, o orçamento do FNDF deve elevar-se para R$ 20 milhões por ano. Fonte: Serviço Florestal Brasileiro/Ministério do Meio Ambiente

14.8.10

Pesquisa Inédita Comprova Contribuição dos Animais com a Dispersão de Sementes em Florestas

Um estudo inédito, realizado nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável do Amanã e Mamirauá, no município de Maraã, nas proximidades da cidade de Tefé, que fica 550 km distante de Manaus, apontou a importância dos animais na dispersão de sementes de plantas na região do Baixo Japurá, no Médio Solimões (AM). As conclusões revelaram que tanto animais aquáticos, como peixes, quanto aves, como araras e tucanos, além dos primatas, têm um importante papel na semeadura das sementes nas florestas da Amazônia. Foram verificados três tipos de floresta, a de várzea, a de terra firme e a de igapó. A semeadura por animais, também chamada de zoocoria, mostrou-se predominante em todas as florestas pesquisadas. “Espécies com dispersão por vetores bióticos (animais) e abióticos (vento e água) foram relativamente comuns em todos os tipos de florestas”, afirmou a pesquisadora Luciane Lopes de Souza, doutora em Zoologia e Ecologia e professora do Centro de Estudos Superiores da Universidade do Estado do Amazonas, UEA, de Tefé Os dados foram apresentados 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Natal (RN), por meio do artigo científico “Síndromes de dispersão, abundância e distribuição das espécies de plantas lenhosas no baixo Rio Japurá”. O trabalho foi baseado em sua tese de doutorado “Ecologia das Florestas do Baixo Japurá”. Na pesquisa, Souza destacou que a região é formada por um mosaico de florestas de terra firme, florestas de várzea e florestas de igapó. “As espécies dessas florestas diferem-se devido a suas síndromes de dispersão (conjunto de características morfológicas que plantas usam para atrair seus dispersores), abundância e distribuição na paisagem”, explicou. Fonte: Ambientebrasil/Danielle Jordan

13.8.10

Embrapa Estuda Tecnologias Para Uso Sustentável de Fruteiras da Amazônia

Projeto visa estabelecer prospecção, coleta, conservação e caracterização morfológica e molecular das fruteiras nativas da região, ainda subexploradas. Uma pesquisa multiinstitucional , coordenada pela Embrapa Roraima, pretende desenvolver tecnologias para o uso sustentável de fruteiras da Amazônia subexploradas comercialmente, em especial o camu-camuzeiro, o taperebazeiro e o açaizeiro. De acordo com Edvan Chagas, coordenador do projeto, essas e outras frutas nativas da região ainda são pouco utilizadas até mesmo pelas populações amazônicas. O pesquisador afirma que nem mesmo aquelas com reconhecidos benefícios à saúde e potenciais econômicos estão sendo devidamente exploradas. Segundo ele, um dos planos de ação estabelece a prospecção, a coleta, a introdução, a conservação e a caracterização morfológica e molecular das fruteiras, com ênfase nas espécies nativas. O projeto será desenvolvido em parceria com várias instituições de pesquisa, ensino e extensão, e o setor produtivo. Outro objetivo é enriquecer a variabilidade genética para formar e manter o Banco de Germoplasma de Fruteiras Nativas da Região Amazônica. Para isso, os pesquisadores vão coletar germoplasmas (material genético de uso imediato ou com potencial de uso futuro) das fruteiras nativas não só de Roraima, mas também de Rondônia, Amazonas e Pará. Edvan diz que as ações também incluem a conservação dos acessos que podem dar suporte aos atuais e futuros programas de melhoramento genético na Embrapa Roraima. O projeto vai focar ainda no comportamento adaptativo de fruteiras nativas de Roraima “estabelecido pelo estudo ecofisiológico de algumas cultivares e seleções, visando a recomendação de novos genótipos”. Paralelamente, os pesquisadores vão estudar tecnologias que viabilizem a rápida propagação de fruteiras nativas. Sob a coordenação da Embrapa Amazônia Oriental, com sede em Belém (PA), eles pretendem definir metodologias de propagação seminífera e vegetativa de novas copas e porta-enxertos para fruteiras. Outra instituição parceira, da Universidade Federal de Lavras (MG), vai coordenar aplicações de técnicas de cultura de tecidos que visam identificar as condições ideais de desinfecção, estabelecimento e micropropagação in vitro das espécies de fruteiras inseridas na pesquisa. Ao longo do projeto, segundo Edvan, será feita uma avaliação pós-colheita de fruteiras nativas da Amazônia, com o objetivo de realizar a caracterização física, química, nutricional, funcional, sensorial e microbiológica dos frutos. Na sequência, pretende-se estabelecer a temperatura e o tempo de conservação refrigerada das espécies coletadas no início do projeto. Essa etapa será coordenada pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). Todas essas ações estabelecem a transferência e difusão de tecnologias, com o objetivo de auxiliar na divulgação dos resultados obtidos a longo do projeto, diz Edvan. “Neste arranjo, acreditamos que será possível somar esforços e obter excelentes resultados e impulsionar a fruticultura nativa da região Amazônica”, conclui. Fonte: D24am

12.8.10

SUSTENTABILIDADE: PREPARANDO A GESTÃO SUSTENTÁVEL

José Joaquim Ferreira do Amaral * A sustentabilidade empresarial deve se basear em três aspectos básicos: o ambiental, o econômico e o social. A primeira variável diz respeito ao uso racional dos recursos naturais e maximização dos impactos ambientais positivos no ciclo de vida dos produtos, desde a extração da matéria-prima até a sua disposição final. Mais ainda, a empresa tem de preocupar-se também com os impactos ambientais positivos e negativos de sua atividade produtiva. O aspecto econômico trata da sustentabilidade dos negócios das empresas, que devem buscar o lucro e a remuneração do capital. Já o terceiro ponto leva em consideração as políticas de responsabilidade social. Esse tripé é o que deve orientar os gestores das empresas, promovendo a interação com o meio ambiente, a fim de garantir o acesso das futuras gerações aos recursos naturais; com o mercado, para preservar a competitividade e continuidade da empresa; e com seus colaboradores, levando em conta a responsabilidade social. Temos de lembrar, no entanto, que, antes de mais nada, é necessário montar um sistema de gestão, com objetivos claramente estabelecidos. No momento em se incorpora a sustentabilidade dentro da visão e missão da empresa, automaticamente, essas três vertentes devem ser contempladas. Atualmente, os modelos de gestão à disposição das empresas, que englobam esses três aspectos, são encontrados nas normas ISO 9001(Gestão da Qualidade), ISO 14001 (Gestão do Meio Ambiente), OHSAS, ISO 16001 e ISO 26001 (Gestão da Responsabilidade Social). Porém, apesar desses modelos de gestão serem bastante complexos e abrangentes, aderir às normas, por si só, não garante a sustentabilidade empresarial. Para que esses sistemas trabalhem de maneira integrada e eficiente é necessário uma diretriz única, que é a governança corporativa. A governança corporativa é a capacidade das empresas de garantir uma gestão eficiente, estabelecendo padrões organizacionais para enfrentar os desafios internos e externos, com vistas a um bom desempenho financeiro, ambiental e social. Em resumo, significa consolidar as boas práticas de board, formando um conselho de administração competente, com controles externos eficazes (auditoria externa de terceira parte), que cooperem com o CEO a fim de obter uma gestão a mais isenta, transparente e eficiente possível. Isso significa prevenir a adoção de práticas que podem levar as empresas a conduzir sua linha de atuação baseadas em políticas equivocadas. Exemplos comuns são o da pequena empresa onde o proprietário confunda a pessoa jurídica com a pessoa física juntando as finanças num caixa único. Outro caso comum é o da empresas familiares que, em processos de sucessão, desagregam-se em grupos de acionistas que lutam pelo seu controle. Quando conduzidos por critérios não aderentes à governança corporativa, esses embates entre grupos acabam quebrando a empresa. A governança corporativa é um conceito complexo, mas prepara as empresas para tratar de maneira integrada as restrições advindas do meio ambiente empresarial, das legislações vigentes em um país, das regras de comércio internacional, mercado financeiro, entre outras variáveis. E isso é necessário, pois, cada vez mais, os governos criam regulamentações sobre produtos, relações de consumo, comércio internacional, relações com o mercado e meio ambiente. Isso sem falar nas crises econômicas, especulação financeira, mudanças nos cenários internacionais, competição com os países emergentes, fatores que podem abalar até as empresas mais sólidas. Todas essas restrições contribuem para tornar mais difícil a tarefa de gerir as corporações com sustentabilidade, no sentido amplo do termo. O uso de modelos de gestão consagrados e normalizados ajudam o administrador a focar sua atenção nesses pontos críticos, que estão fora do controle da empresa. Com isso, ele consegue ter bases mais sólidas para enfrentar as crises e adversidades, pois conta com uma estruturada bem organizada e capaz de dar respostas eficientes às situações adversas. Daí a importância da governança corporativa, estruturada nas boas práticas de gestão que geralmente evitam atitudes pouco recomendadas como a confusão entre pessoa física e pessoa jurídica, o nepotismo, conflito de interesses, entre outras. E incentiva a consideração aos acionistas e aos stakeholders, a ética na condução dos negócios e o respeito ao meio ambiente e às pessoas. José Joaquim Ferreira do Amaral, vice-presidente da Fundação Vanzolini ( formada por professores do Departamento de Engenharia de Produção POLI/USP) – www.vanzolini.org.br Fonte: Ateliê de Textos - José Joaquim Ferreira do Amaral *

10.8.10

Petrobras Biocombustível Assina Acordo Para Produção de Palma no Pará

A matéria-prima será usada em uma usina de biodiesel que será construída pela empresa no Estado e que deve começar a operar em julho de 2013. A Petrobras Biocombustível anunciou sexta-feira (06) a assinatura de um contrato de arrendamento de terra para implantação de um viveiro de mudas de palma no município de Mocajuba (PA). A matéria-prima será usada em uma usina de biodiesel que será construída pela empresa no Estado e que deve começar a operar em julho de 2013. Com investimentos previstos de R$ 330 milhões, a nova usina terá capacidade de produzir 120 milhões de litros de biodiesel por ano para atender a região Norte. Além da unidade de produção de biodiesel, o projeto prevê a instalação de dois complexos industriais de extração do óleo de palma, incluindo esmagadoras e unidade de cogeração de energia elétrica. A implantação do viveiro de mudas é o primeiro passo para o desenvolvimento da parte agrícola do projeto. A área de 300 hectares será destinada ao cultivo de 1,1 milhão de sementes. O plantio das mudas nas áreas de produção está previsto para dezembro de 2011 e o início da colheita a partir de 2014. As mudas serão disponibilizadas aos parceiros da Petrobras Biocombustível no plantio de palma. Entre eles, cerca de 1.250 agricultores familiares da região chamada Pólo do Dendê, nos municípios de Igarapé-Miri, Cametá, Mocajuba e Baião. A empresa já realizou uma ação de cadastramento nesta região e fez a localização geográfica das propriedades de agricultores familiares, que servirá para o processo de regularização fundiária e obtenção do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Segundo o diretor de Suprimento Agrícola da Petrobras Biocombustível, Janio Rosa, a empresa investirá também em tecnologia agrícola. "Estamos estudando a aplicação de um método, desenvolvido pela Embrapa, que evita a queimada e reduz em cerca de 80% a emissão de CO2 no preparo da terra comparado ao método tradicional", comenta o diretor sobre o método que prepara o terreno por meio de corte e trituramento, que ainda contribui para fertilizar o solo a partir da decomposição dos resíduos vegetais. Fonte: D24am

9.8.10

Nature Mostra Desafio do Brasil Produzir Sem Destruir Floresta

Revista científica mais respeitada no mundo analisa o potencial do Brasil na produção e exportação de alimentos, questionando até que ponto é possível obter ganhos agrícolas sem destruir a Amazônia. Artigo publicado na revista Nature (Vol 466, de 29 July 2010) analisa o potencial do Brasil na produção e exportação de alimentos, questionando até que ponto é possível obter ganhos agrícolas sem destruir a Amazônia. Na última década, por exemplo, o pais quadruplicou as exportações de carne bovina, superando a Austrália, e está competindo com Estados Unidos pelo título de maior exportador de soja no mundo. De acordo com o artigo, intitulado “The Global Farm” (A fazenda global, em tradução livre), a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação estima que a produção agrícola do Brasil vai crescer mais rápido do que em qualquer outra nação do mundo na próxima década, aumentando em 40% até 2019. Talvez não seja um cenário animador para um país em que a pecuária é frequentemente associada com a destruição da floresta amazônica. No passado, já foi pior, quando a demanda por commodities, como carne bovina, milho e soja subiram. “As árvores foram para o chão”, diz o texto. E destaca que, “apesar da crescente produção e dos persistentes altos preços dos commodities desde o auge do crise global de alimentos em 2007-08, o desmatamento na Amazônia registrou uma redução histórica no ano passado, quase 75% abaixo de seu pico de 2004, e espera-se mais uma boa notícia neste ano”. "Nós quebramos o paradigma nos últimos cinco anos. Já não existe uma correlação direta entre os alimentos e o desmatamento", afirmou à Nature Mateus Batistela, diretor da Embrapa Monitoramento por Satélite, em Campinas. Segundo declarou, o Brasil conseguiu esse feito através da política, melhorias em ciências agrícolas, melhor aplicação das leis ambientais e pressão dos consumidores”. O artigo aponta que, mesmo assim, o país ainda enfrenta inúmeros desafios em relação à demanda pela produção de alimentos. Os conflitos sobre as políticas de uso da terra são comuns, além do fato de que as mudanças climáticas vão afetar muitas culturas importantes. A questão é: como será possível ao Brasil superar esses entraves, capitalizando seus recursos naturais e uma economia crescente de maneira sustentável?. “Soja Maradona” A Nature também destaca a ascensão do Brasil como uma gigante agrícola devido à cultura da soja, a maior do país no ramo da produção de alimentos, com lucro de cerca de US$ 17 bilhões em 2008. E credita o crescimento ao avanço de pesquisas na área. É que, na década de 1960, a gama de soja era muito limitada ao sul do país, mas, desde então, por meio de técnicas agrícolas, que permitiram mais variabilidade, a soja passou a ser cultivadas em quase todo o país. “Cientistas da área agronômica compensaram solos altamente ácidos do cerrado brasileiro com calcário e outros nutrientes, e reduziram custos com fertilizantes por meio do desenvolvimento de métodos capazes de inocular sementes com rizóbios, bactérias que colonizam raízes de plantas como a soja e fixam nitrogênio. Agricultores brasileiros estão agora competindo com os Estados Unidos pelo recorde dos lucros da soja”, diz Jeff Tollefson, que assina o artigo. Segundo ele, depois de um longo atraso, o Brasil também está crescendo na área de culturas transgênicas. Uma década atrás, o destino de organismos geneticamente modificados (GM) no país era desconhecido. Uma comissão nacional aprovou o cultivo da primeira planta de soja transgênica para cultivo em 1998, porém, um juiz decretou moratória sobre o plantio de sementes resistentes a herbicida, chamando-as de “monstro estrangeiro”. Essas sementes foram desenvolvidas e comercializadas pela empresa Monsanto, sediada nos Estados Unidos. O texto afirma que, ao invés de respeitarem a legislação nacional, os agricultores brasileiros recorreram a Argentina para a importação ilegal de sementes Monsanto, que ganhou o apelido “soja Maradona” em homenagem Diego Maradona, o jogador de futebol mais famoso no pais vizinho. O artigo relata que a ilícita 'soja Maradona' tornou-se tão generalizada que, em 2003, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva a legalizou, num esforço de colocar ordem nas importações, instituir um controle básico para proteger as empresas brasileiras de sementes que não eram capazes de competir com os vendedores ilegais. Dois anos depois, o Congresso brasileiro promulgou uma lei de biossegurança, revendo a aprovação dos transgênicos. Transgênicos Em 2006, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança foi designada para aprovar plantas transgênicas, começando com a soja, algodão e milho. O artigo traz a declaração do bioquímico Walter Colli, ex-presidente da comissão, sobre a questão: "Eu vivi quatro anos de inferno ali, mas eu acredito fizemos coisas que serão reconhecidas como muito importante para a agricultura brasileira nos anos vindouros”. Colli garantiu a aprovação de transgênicos ignorando debates ideológicos durante as reuniões da Comissão e focando nas questões técnicas sobre segurança pública e ambiental, estratégia endossada pelo governo Lula, de forma velada. O Brasil usualmente conta com produtos GM desenvolvidos no exterior, mas no início deste ano a Comissão de Biossegurança aprovou a primeiro semente transgênica a ser desenvolvida por cientistas brasileiros. Já são mais de 21 tipos de plantas GM aprovados para uso no campo e o país é o segundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, no número de hectares plantados com culturas transgênicas. Este ano, a soja GM responderá por até 70% do mercado brasileiro. Estima-se que, em 2011, poderá chegar a 75%, segundo Alda Lerayer, diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia, uma organização sem fins lucrativos com sede em São Paulo. Legalmente, os alimentos que contenham plantas transgênicas deve ser rotulados com um T, mas Lerayer diz que, apesar dos ambientalistas terem levantado preocupações, a oposição à difusão das culturas GM tem até agora se mantido em silêncio. Pesquisadores da Embrapa têm melhorado soja com um gene fornecido pela BASF, gigante química alemã que desenvolveu técnica de resistência a uma nova classe de herbicidas. Para Elíbio Rech, que lidera o projeto no centro de pesquisas em recursos genéticos e biotecnologia da Embrapa, o trabalho mostra a capacidade do Brasil no domínio da biotecnologia, servindo como um modelo de parceria entre empresas governamentais e o setor privado. "O planeta vai ter que trabalhar em conjunto para assegurar que seremos capazes de duplicar a produção de alimentos até 2050, e o Brasil vai desempenhar um papel importante", declarou Rech. O artigo afirma que, por hora, os transgênicos no Brasil e em outros lugares ajudam os agricultores na batalha contra as ervas daninhas e insetos, mas não aumenta diretamente a quantidade de alimentos produzidos por cada plantas. “No entanto, a Embrapa está trabalhando em novo técnicas que podem um dia abrir portas para maior variedade de plantas mais nutritivas e mais produtivas”, diz o artigo. Moratória da soja O texto também faz referência a “Moratória da Soja”. Afirma que as variedades mais produtivas exercem maior pressão sobre a floresta – “extensivamente eliminada para abrir caminho para a agricultura” – mas que o Brasil já diminuiu o desmatamento, tentando fazer melhor uso da terra em áreas que foram desmatadas. “Estimulados pela pressão de consumidores e grupos ambientalistas como o Greenpeace, os produtores de soja foram os primeiros a assumir o compromisso de proteger a Amazônia”, diz o artigo, referindo-se à “Moratória da Soja”. Quatro anos atrás, os maiores exportadores concordaram em uma moratória sobre o comércio de sementes de soja cultivada em áreas desmatadas após julho de 2006. O monitoramento é feito por satélite, e o Greenpeace diz que o pacto tem contribuído para reduzir as violações mais flagrantes. Segundo os ambientalistas, proprietários de matadouros fizeram promessa semelhante. Comprometeram-se a mapear os seus fornecedores diretos a partir de novembro de 2010, para assegurar que a carne não virá terras recém-desmatadas. De longe, o maior potencial para aumentar a produção é em pastagens, que no Brasil abrange mais de 200 milhões de hectares, segundo alguns estimativas. Corresponde a quase um quarto do país, ou uma área três vezes o tamanho da França. Os pecuaristas brasileiros têm em média pouco mais de uma vaca por hectare de terra, mas muitas pastagens bem gerenciadas, com a melhor produção de grama, contêm três, quatro ou até cinco vacas por hectare. Aos poucos a situação vai melhorando. Na última década, a pastagem na região amazônica aumentou em 30% e o número de bovinos, em 80%. Como parte de um esforço mais amplo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e aumentar intensidade de atividades agrícolas, o governo brasileiros instituiu um programa de US$ 2 bilhões. O objetivo, entre outras coisas, é melhorar 15 milhões de hectares em áreas degradadas de pastagem ao longo de dez anos. Futuro arrsicado O governo também espera impulsionar a produção, ajudando os agricultores a escolher melhores sementes para plantar. Em 1996, a Embrapa começou a elaboração de mapas de zoneamento climático para diversas culturas-chave a fim de garantir que empréstimos governamentais não sejam gastos com plantas que são suscetíveis de falhar. Os mapas são publicados para cada cultura, por estado, e leva em conta aspectos como topografia, solos, clima passado e padrões sazonais. Quando os agricultores vão solicitar um empréstimo, os bancos procuram a sua localização e são capazes de determinar exatamente o tipo de cultura que é permitido em qualquer dia do ano. “Nós achamos que a produtividade pode aumentar em 20% usando o zoneamento”, afirmou Eduardo Assad, do Centro de informação agrícola da Embrapa. Segundo explicaram os cientistas, as zonas serão um alvo em movimento por causa da mudança do clima. Assad e seu colega, Hilton Pinto, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), agora estão tentando avaliar como o aquecimento global pode afetar as zonas de culturas nas próximas décadas. Suas projeções sugerem que os prejuízos agrícolas poderia ultrapassar US $ 4 bilhões anualmente até 2020 por causa de aumento das temperaturas. Os pesquisadores afirmam que mais de metade dos perdas estão na soja. A cana-de-açúcar é o “vencedor solitário”, o território ideal para muito mais que o dobro das previsões. Essas projeções são baseadas apenas na temperatura, porque os modelos climáticos diferem acentuadamente em suas previsões de precipitação e efeitos mais amplos sobre a Amazônia. No entanto, o grupo está confiante que as medidas prepararão o país um futuro aquecedor. O artigo termina afirmando que o clima é apenas um dos muitos desafios que o Brasil enfrenta na tentativa de expandir e modernizar seu sistema agrícola. “Isso irá requerer uma mudança de atitude também”, diz o texto, afirmando que, apesar de os pesquisadores já trabalharem atuarem em políticas de crescimento com base no desenvolvimento sustentável, muitos fazendeiros e os agricultores não estão ainda a bordo. “Interesses agrícolas prevaleceram sobre as preocupações ambientais este mês, quando uma comissão especial do Congresso aprovou o novo Código Florestal, que estabelece normas mínimas para proteção dos habitats nativos. Cientistas e ambientalistas estão se preparando para uma prolongada batalha contra a legislação. Mas, para muitos, pelo tom da discussão, a mudança é um retrocesso”. (Leia o artigo original, em inglês, no site http://www.nature.com). Fonte: D24am

8.8.10

As Florestas Plantadas de Eucaliptos e a Utilização de Agrotóxico

O termo agrotóxico é legislado no Brasil para se referir a produtos utilizados para combater organismos indesejáveis, tanto na agricultura, pecuária e silvicultura, como na própria sociedade urbana. São substâncias utilizadas para combater/matar as pragas e doenças (como insetos, larvas, fungos, bactérias, carrapatos, etc.) e controlar o crescimento de vegetação ("plantas daninhas"), entre outras funções. O termo agrotóxico, veio por lei para substituir a terminologia "defensivo agrícola", que era mais utilizada na agricultura. Isso foi fruto de uma mobilização da sociedade civil organizada, que estava querendo associar tais produtos ao seu efeito tóxico aos demais seres vivos e ecossistemas. Os agrotóxicos possuem ainda diversas sinonímias, como pesticidas, praguicidas, "remédios de planta", "veneno" e até mesmo "defensivos agrícolas". Em função de sua utilização específica, os agrotóxicos podem ser desdobrados em formicidas, inseticidas, herbicidas, fungicidas, carrapaticidas, raticidas, acaricidas, nematicidas, larvicidas, etc., etc. Acontece amigos, que o mundo tecnológico é bastante dinâmico: existem muitas inovações ocorrendo a nível global, especialmente nas áreas de biotecnologia, agro-ecologia, controle biológico de pragas, resistência de plantas a doenças e pragas, etc. Há ainda trabalhos voltados para desenvolver moléculas de menores níveis de toxicidade e até mesmo moléculas orgânicas extraídas de vegetais. Esperamos com isso, que em algumas décadas mais, o termo agrotóxico entre em obsolescência, já que outras maneiras para combater esses organismos indesejáveis poderão ter surgido. Como exemplo citamos: uso de feromônios, hormônios, pesticidas microbiológicos, repelentes a insetos, produtos para castração sexual das pragas, etc., etc. O Brasil, com sua vocação para o agronegócio, é um enorme mercado para a venda de agrotóxicos. Nosso país tem disputado com os Estados Unidos a primeira posição no ranking dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos. Das dezenas de produtos formulados no Brasil, a maioria são para herbicidas (44%), seguidos dos inseticidas e fungicidas (cerca de 28% cada). Trata-se definitivamente de um mercado e atividade econômica muito importante: só no caso brasileiro representa cerca de 6 bilhões de dólares anuais, dos quais um bilhão são de produtos importados. As culturas agrícolas brasileiras que mais consomem agrotóxicos são: soja, cana-de-açúcar, milho, algodão, café e citros. Isso por terem as maiores áreas plantadas e manejo para colheitas anuais. Apesar das plantações florestais representarem área plantada similar à da cana, a floresta plantada consome muito menos agrotóxicos por hectare/ano. Isso porque a floresta plantada só recebe aplicações de agroquímicos na fase inicial de seu plantio (no viveiro para o preparo de mudas, no pré-plantio para limpeza da área, no plantio e nas manutenções da floresta no primeiro ou até segundo ano de crescimento). Depois, até a idade de colheita (eucalipto = 6 a 8 anos e Pinus = 15 a 22 anos), o uso de agrotóxicos é limitadíssimo. Ele apenas ocorre no controle de formigas cortadeiras, ou em alguma infestação localizada de alguma praga, doença ou por matocompetição. Por essa razão, as aplicações iniciais se diluem nesses anos em que as florestas não recebem aplicação alguma de agrotóxicos. Em algumas empresas florestais se prolongam as aplicações de herbicidas por toda a rotação para manter a "floresta limpa" de mato; em todas ocorre constante controle das formigas e todas monitoram o eventual aparecimento de alguma praga ou doença, conhecida ou não. É muito difícil de se aplicar agrotóxicos em florestas estabelecidas, pelas dimensões das copas e altura das árvores. Aplicações por aviões são complicadas e de baixa eficiência. Por isso, toda atenção é dada para encontrar os focos iniciais e eliminar o problema na origem. Quando a praga se espalha, a alternativa preferida é o uso de predadores biológicos (controle biológico). Em geral, hoje no Brasil se plantam cerca de 600 mil hectares de florestas novas por ano, enquanto a área total plantada é de 6,5 milhões de hectares. Ou seja, apenas 10 até no máximo 20% da área plantada está recebendo uma aplicação mais intensa de agrotóxicos, enquanto a área restante está crescendo e vê alguma aplicação só em algum ataque localizado de formigas, lagartas, ou algum outro "organismo daninho". Apenas, comparativamente, as culturas de soja, milho e cana são anuais e representam áreas intensamente agriculturadas de respectivamente 22 milhões, 9,5 milhões e 6 milhões de hectares. Com isso, pode-se sentir que a contribuição do setor florestal no tema agrotóxicos não é tão significativa, mas nem por isso deve ser minimizada. Apesar da quantidade de ingredientes ativos de agrotóxicos aplicadas por hectare/ano nas florestas plantadas serem relativamente baixas em relação aos cultivos agrícolas anuais, sempre existem reclamos de ambientalistas. Entre os frágeis argumentos colocam que a sociedade humana não se alimenta de madeira, por essa razão criticam as plantações florestais e o uso de agrotóxicos nelas. Talvez, com isso, queiram mostrar que "perdoam ou aceitam" o uso de agrotóxicos na agricultura para produção de comida, mas não nas florestas plantadas. Esquecem-se de que a felicidade e o bem-estar das pessoas não depende apenas de comida, mas de uma grande quantidade de outros bens, tais como: habitações, móveis, livros, fármacos, desinfetantes, veículos de transporte, etc. Em todos esses e em muitíssimos mais, vamos encontrar os produtos das florestas plantadas servindo de matéria-prima ou mesmo de bem final. Sempre teremos questionamentos contra a fabricação e uso de agrotóxicos, quanto a isso não temos dúvidas e isso é salutar para as mudanças tecnológicas. Clamam os ambientalistas que existem muitas pesquisas mostrando problemas de doenças em seres humanos devido ao uso de agrotóxicos. Isso não significa apenas os problemas de queimaduras ou intoxicações nos que aplicam os agrotóxicos. Referem-se também ao consumo de agrotóxicos presentes nos alimentos, que conduzem a doenças sérias como câncer, Parkinson e outras enfermidades do sistema nervoso central. Os mais entusiasmados ambientalistas chegam a suspeitar que existe uma espécie de "máfia dos agrotóxicos". Argumentam que as mesmas empresas que fabricam os compostos para matar as pragas e doenças produzem também as sementes agrícolas. Resultado, sugerem que as variedades são desenvolvidas para alta dependência desses produtos químicos. Um ciclo vicioso interminável na opinião dos mesmos. Enfim, existem preocupações e contestações - isso é bom, quando bem dosadas e argumentadas, pois ajudam a aperfeiçoar o modelo vigente. Sabemos que ele não é o ideal, mas é o que dispomos para as altas produtividades requeridas na agricultura, pecuária e silvicultura. Acontece que as coisas estão também acontecendo nesse setor da indústria química. Lembremos que há alguns anos atrás diversas moléculas mais perigosas eram usadas: BHC, DDT, dodecacloro, pentaclorofenol, etc. Hoje, grande parte das formulações de agrotóxicos são classificadas no Brasil como classe III (rótulo azul ou de pouco risco) ou classe IV (rótulo verde ou de mínimo risco a seres humanos). Talvez a maior infelicidade no uso dos agrotóxicos seja o seu uso indiscriminado e excessivo. Criou-se uma filosofia de aplicações preventivas na agricultura, ou seja, põe-se o "veneno" mesmo sem ter a presença da praga. Basta que existam condições climáticas favoráveis a que surja a praga e se fazem aplicações preventivas. Às vezes, essas aplicações são até mesmo feitas com base em um calendário para aplicações, mesmo sem pragas a molestar as culturas. Fica mais caro, mais agressivo ao meio ambiente e muito pouco sustentável se fazer dessa forma. Por essas e outras razões, existem questionamentos em relação às tecnologias atuais de combate às pragas, plantas daninhas e doenças, porque muitos acreditam que as metodologias estão direcionadas apenas em tentar aniquilar as pragas quimicamente e nada mais. Falaremos algo mais sobre isso um pouco adiante. Tanto a agricultura como a silvicultura trabalham hoje pela busca de modelos sustentáveis e certificados. A sustentabilidade como vista atualmente aceita o uso de agrotóxicos na agricultura e silvicultura, desde que as aplicações sejam feitas de acordo com os requisitos legais, com segurança ao trabalhador e população vizinha, e dentro do que está preconizado pelos critérios vigentes das entidades certificadoras. Entretanto, para as empresas que queiram certificações e rotulagens de sustentáveis, sugere-se que estejam sempre buscando outras alternativas menos impactantes do que os agrotóxicos atuais, como por exemplo: controle biológico, melhoramento genético buscando variedades resistentes ou tolerantes, etc. A verdade é que as grandes preocupações dos ambientalistas são também preocupações que direcionam ações dos dirigentes e técnicos que trabalham nas empresas de base florestal. Basta se avaliar as metas dessas empresas em relação aos agrotóxicos para se perceber isso. Vejam o que está sendo objetivado hoje nas pesquisas e operações das empresas brasileiras líderes em plantações florestais (eucaliptos, Pinus, acácia negra, etc.): • redução no consumo específico de agrotóxicos por hectare de área efetivamente plantada; • prevenção e redução de riscos e impactos à saúde das pessoas, dos organismos não-alvos e dos ecossistemas; • altíssima segurança no manuseio, estocagem e aplicações; • busca constante de moléculas de menor toxicidade para as aplicações florestais; • busca de novos modelos alternativos para prevenção ao surgimento de matocompetição, pragas e doenças; • avaliação da micro-vida do solo para entender os efeitos dos agrotóxicos sobre organismos benéficos dos solos (micorrizas, rizóbios, etc.); • monitoramento constante do grau de infestação de plantas daninhas, pragas e patógenos para aplicação da dose correta e no momento certo; • monitoramento do grau de resistência dos patógenos para entendimento de eventual ganho de resistência desses organismos em relação aos agrotóxicos em uso; • controle de qualidade sobre a aplicação manual e mecanizada de pesticidas, buscando sempre a otimização da operação; • busca constante de novas variedades (ou de clones) capazes de mostrar maior resistência ou tolerância a pragas e doenças (Exemplos: controle da ferrugem e do cancro do eucalipto); • dispor de meios rápidos para desenvolver organismos predadores de pragas e doenças através controle biológico (Exemplos: controle da vespa-da-madeira do Pinus por uso do nematóide Deladenus siricidicola ; controle de lagartas desfolhadoras de eucaliptos pelo uso da bactéria Bacillus thuringiensis); • manter florestas sadias com mínima presença de indivíduos estressados e fracos (desbastar quando necessário), já que esses são mais sensíveis às pragas e doenças e se tornam portas de entrada das mesmas; • buscar mecanismos que favorecem a redução do ciclo de vida dos agrotóxicos após sua aplicação, tornando-os mais biodegradáveis no solo ou mesmo nas plantas-alvo; • etc., etc. Nós do setor florestal sabemos e compreendemos os riscos e ameaças dos agrotóxicos. Esses devem ser controlados e minimizados por eficientes mecanismos de gestão ambiental e de qualidade. Entretanto, no presente estágio tecnológico, as altas produtividades florestais precisam ser alcançadas, senão o impacto ambiental pode ser ainda maior. As florestas mais produtivas são mais ecoeficientes: consomem menos água, menos nutrientes, menos agrotóxicos por tonelada ou metro cúbico de madeira produzida. Caso os rendimentos florestais diminuam, seriam necessárias maiores áreas de plantações para atender às demandas atuais por madeira. Com isso, os impactos ambientais seriam maiores e maiores áreas seriam requeridas. O mesmo é válido para a agricultura. Imaginem que há cerca de 35 anos atrás a produtividade do milho era 50% menor por hectare e a população do Brasil a metade do que é hoje. Se não se tivessem conseguidos os ganhos na produtividade dessa cultura, a área de milho que hoje utilizamos teria que ser no mínimo o dobro para atender as necessidades brasileiras desse tipo de grão. Os mecanismos preferidos para combate a pragas e doenças pelos plantadores de florestas são: incorporação de resistência das plantas às doenças e pragas e controle biológico. Entretanto, existem outras opções tecnológicas que podem e devem ser mais estudadas pelo setor de base florestal e pela agricultura. Apresentarei algumas delas a vocês para sua reflexão e eventual ações: Uso do poder de cobertura dos resíduos pós-colheita para abafamento e efeitos alelopáticos na vegetação concorrente que tenderia a germinar (matocompetição) Esse tipo de prática já está consagrada no setor de florestas plantadas, mas ainda sem um estudo mais profundo no aspecto de combate à matocompetição e efeitos alelopáticos. A ênfase tem sido mais colocada na ciclagem de nutrientes do que em outras vantagens dessa cobertura para reduzir o uso de agrotóxicos. Moléculas de compostos alelopáticos para substituir ou complementar o uso de herbicidas Alelopatia é geralmente definida como o efeito de uma espécie de planta sobre outra(s), através da inibição da germinação, perturbação no crescimento e até mesmo causando sua morte. Isso por causa da liberação de substâncias químicas que essa planta produz, em geral nas folhas, raízes e/ou casca. Os compostos alelopáticos podem agir alterando a absorção de nutrientes, regulação do crescimento, fotossíntese, respiração, permeabilidade da membrana celular, etc. A produção de aleloquímicos por plantas depende de um número grande de fatores, entre eles; genética, fertilidade do solo, densidade de plantas, idade e estágio metabólico, estiagem e exposição à luz, etc. Descobrir plantas alelopáticas e identificar os compostos aleloquímicos pode ser uma fantástica nova ferramenta para novos herbicidas definitivamente naturais, não é mesmo? Moléculas orgânicas obtidas de extratos de plantas para uso na repelência ou controle fitoquímico de pragas e doenças São conhecidos os efeitos anti-fúngicos e de repelência a insetos de muitos extratos de plantas encontradas no Brasil, tais como: piretro (Chrysanthemum cinerariaefolium); fumo (Nicotiana tabacum); timbó (gêneros Derris, Lonchocarpus e Tephrosia): alho (Allium sativum); jurubeba (Solanum cordifolium); manjericão (Ocimum basilicum); capim-limão (Cymbopongon citratus); eucalipto "cheiroso" (Corymbia citriodora), quebra-pedra (Phyllanthus niruri); erva-cidreira (Lippia alba) e "neen" ou nin indiano (Azadirachta indica). Imaginem amigos, com o poder que temos em biodiversidade de nossas florestas naturais no Brasil, quantas moléculas devem estar esperando a vez de serem encontradas! As plantas praguicidas podem ter novas oportunidades nesse imenso celeiro de moléculas que é a Natureza (http://www.cnpma.embrapa.br/informativo/mostra_informativo.php3?id=241). Um caminho imenso a explorar para se descobrir maneiras mais naturais de ataque a fitopatógenos. Alternativas no manejo do eco-mosaico florestal Sabe-se que os sistemas naturais diversificados e permanentes são sustentáveis e que os monocultivos são muito mais frágeis nesse particular. A monocultura pode render altíssimas produtividades, mas demandará custos cada vez maiores com agroquímicos e com a prevenção e controle dos impactos ambientais resultantes. Cabe ao pesquisador florestal trabalhar na busca de outras alternativas que levem a altas produtividades de madeira, mas em modelos mais diversificados, como: rotação de culturas, sistemas agro-florestais, sistemas agro-ecológicos, diversificação de produtos em um mesmo sistema, etc. Alternativas oferecidas pela biomimética e pela ecologia fitoquímica A biomimética tem como meta estudar a Natureza no sentido de aprender com ela (e não sobre ela). Sabendo como a Natureza resolve, em seus ecossistemas naturais, os problemas de competição entre plantas, de ataques de pragas e doenças, a biomimética poderia ajudar a desenvolver novas maneiras de cultivos agrícolas e florestais. A biomimética baseia-se no estudo de sistemas biológicos para desenvolver ou aperfeiçoar novas soluções de engenharia, já que os problemas enfrentados tanto pela Natureza como pelas tecnologias criadas pelo homem são similares. Já a ecologia fitoquímica complementaria com os estudos de fitoquímicos presentes nas plantas dos ecossistemas naturais, procurando entender os fenômenos encontrados com base nas moléculas químicas presentes nos ecossistemas. Com isso, através de conhecimentos da fisiologia e ecologia poderão ser conhecidos os papéis dos químicos utilizados pela Natureza. Isso tudo poderia levar a novas maneiras de controlar as pragas e doenças de cultivos agrícolas e silviculturais: ao invés de aniquilar as pragas, patógenos ou plantas daninhas, tornar as plantas do cultivo fisiologicamente capazes de conviver com elas. Uso seguro da biotecnologia florestal A identificação de genes de tolerância ou de resistência a pragas, doenças e até mesmo aos próprios agrotóxicos tem ajudado no aumento das produtividades agrícola e florestal e colaborado na redução das necessidades em áreas de plantios. Cabe aos geneticistas a transferência de forma segura desses genes para as plantas e variedades comerciais. Algo que já está sendo feito no eucalipto, da mesma forma que há anos é feito em culturas como a do café, citros, etc. Acontece que até o momento essa transferência de genes ocorria por cruzamentos controlados ou por produção de híbridos. Agora, existe também a ferramenta da engenharia genética e da produção de organismos geneticamente modificados. Uma tecnologia atual e que gera grandes expectativas, mas que deve merecer estudos e máxima responsabilidade de pesquisadores e empresários do agronegócio brasileiro. Aproveitamento dos conceitos da teoria da trofobiose de Francis Chaboussou A teoria da trofobiose (http://comunidades.mda.gov.br/o/899393) foi desenvolvida pelo pesquisador Francis Chaboussou para explicar porque qual razão existem plantas não atacadas por pragas e doenças em um cultivo agrícola ou florestal infestado por elas. A planta precisa servir de alimento adequado e só será atacada por insetos, nematóides, fungos ou bactérias, quando tiver na sua seiva exatamente o alimento que essas pragas precisam. Este alimento é constituído, principalmente, por amino-ácidos, que são substâncias simples, rapidamente aproveitadas. Em outras palavras, uma planta saudável, bem alimentada e com seiva equilibrada em proteínas, dificilmente será atacado por pragas e doenças. As pragas morreriam de fome numa planta sadia, ou então procurariam logo uma planta em desequilíbrio nutricional. De acordo com Chaboussou, os adubos químicos solúveis e os agrotóxicos são fatores que provocam desequilíbrios no metabolismo das plantas, fazendo com que a planta tenha na sua seiva uma quantidade maior de amino-ácidos livres e menor de proteínas complexas. Quanto mais intensa for a síntese de proteínas, menor seria a sobra de amino-ácidos livres, açúcares e minerais solúveis que os insetos e microrganismos necessitam para se alimentar. As pragas têm uma variedade muito pequena de enzimas digestivas, o que reduz sua possibilidade de aproveitar completamente moléculas grandes como as de proteínas. Além disso, a formação eficiente de proteínas aumenta o nível de respiração e de fotossíntese da planta, melhorando todo o metabolismo vegetal. Plantas que recebem nutrição desequilibrada provavelmente irão necessitar aplicação de agrotóxicos – fechando esse ciclo de dependência de adubo químico e agrotóxico. Não tenho dúvidas que há necessidade de se conhecer mais sobre isso tudo para os nossos amigos eucaliptos. As novas fronteiras da Ciência & Tecnologia em relação aos agrotóxicos Se tivermos a habilidade de visualizar, só por um momento, os caminhos futuros das tecnologias para as florestas plantadas, veremos que existem coisas muito boas e até mesmo muito simples esperando por nós. Definitivamente, a capacidade do homem para inovar é fabulosa e está acontecendo em uma escalada surpreendentemente rápida. Vejam, só algumas coisas que eu mesmo consegui visualizar, mesmo necessitando de óculos, em minha olhadela para o futuro: • com o desenvolvimento dos processos de produção do etanol celulósico, todo o mato que hoje deve ser aniquilado pelos herbicidas nos cultivos agrícolas e florestais passará a ser matéria-prima para a produção de álcool. Ao invés de se aplicar "veneno para matar plantas", o futuro colocará essa matéria orgânica sendo enviada para a produção de biocombustíveis. Exportarão nutrientes do solo, sem dúvidas, mas isso será um outro problema a ser resolvido pela ciência. Afinal, sempre uma solução tecnológica resulta em outras necessidades de pesquisas: um caminho sem fim. • com um melhor conhecimento do valor nutritivo dos corpos e constituintes das pragas (formigas, lagartas, vespas, mariposas, etc.) elas poderiam, ao invés de serem destruídas e mortas, serem atraídas e transformadas em matérias-primas para algum uso industrial (rações de animais, por exemplo) ou mesmo artesanal (se a escala for pequena). Por exemplo, hoje, os chineses estão pesquisando o uso alimentício de lagartas e pupas do bicho-da-seda, pois esse inseto possui em sua constituição mais proteínas do que o leite e os ovos (http://en.wikipedia.org/wiki/Silkworm). Além disso, suas fezes são hoje utilizadas e disputadas como adubo orgânico valioso. Até hoje, nosso paradigma tem sido o de resolver os problemas das pragas e doenças agrícolas combatendo-as e aniquilando-as. O uso de agrotóxicos tem sido uma notável ferramenta para isso. Entretanto, as pragas sempre continuarão a existir, novas surgirão e se multiplicarão. Será que teremos que ficar a matar as mesmas até o final de nossos dias? Uma alternativa seria encontrar usos para seus corpinhos e seus constituintes. Não seria isso mais ecoeficiente e natural? De indesejáveis passariam a desejáveis: vejam só que mudança fantástica de status tecnológico. Deixo aqui para terminar esse artigo uma reflexão final: como poderemos evitar os danos e o ataque de pragas e doenças nas plantas sem o uso de agrotóxicos? Para a matocompetição já vimos o caminho: o mato será matéria-prima para produção de biocombustíveis. Para as pragas e doenças de plantas a solução é algo mais difícil. Talvez tenhamos que nos espelhar em nós mesmos seres humanos para tentar encontrar uma solução. Afinal somos os maiores predadores dos seres vivos desse planeta, a maior das pragas sob essa ótica ecoambientalista. Fonte: GRAU CELSIUS

7.8.10

Cientistas querem contribuir com debate sobre novo Código Florestal

Um dos objetivos é auxiliar a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência no posicionamento sobre as mudanças no código Cientistas de diversas áreas se reúnem nesta terça (03) na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para avaliar os impactos das alterações propostas no Código Florestal Brasileiro sobre a Mata Atlântica e o Cerrado, incluindo os vertebrados e invertebrados que habitam esses biomas. “A comunidade científica não foi ouvida. E nossa contribuição passa ao largo de posições ideológicas e políticas: é uma contribuição científica. Os impactos das modificações propostas são muito amplos, pois a nova redação abre flancos para a degradação”, afirma Thomas Lewinsohn, professor de Ecologia da Unicamp e presidente da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação. Um dos objetivos dos cientistas é auxiliar a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência no posicionamento sobre as mudanças no código. Para eles, as modificações propostas enfraquecem o código em vigor. “O Código Florestal atual é mais sólido na intenção de assegurar a integridade ambiental de áreas que ainda mantêm as florestas.” Fonte: Andrea Vialli - O Estado de S. Paulo

6.8.10

Impactos do Código Florestal são analisados

Por Fabio Reynol Impactos potenciais da revisão no Código Florestal, em tramitação no Congresso Nacional, na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos foram debatidos por pesquisadores de diversas áreas do conhecimento nesta terça-feira (3/8), em evento organizado pelo programa Biota-FAPESP, na sede da Fundação. Carlos Alfredo Joly, coordenador do Biota-FAPESP e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), abriu o encontro lamentando a falta de participação da comunidade científica nas discussões sobre as alterações no atual Código Florestal – que preveem, por exemplo, reduções significativas nas áreas de preservação permanentes (APP) e anistia a desmatamentos feitos até 2008. “Essa nossa crítica foi destacada em uma carta assinada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), as duas maiores representantes da comunidade científica”, disse Joly. As duas entidades deverão ampliar as discussões sobre o assunto por meio de um grupo de trabalho. Ricardo Ribeiro Rodrigues, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), que coordenou o encontro junto com Joly, ressaltou que a proposta de revisão do código ensina importantes lições à comunidade científica, entre elas a importância de tomar iniciativas de mudanças antes que outros o façam. “O Código Florestal atual vigora desde 1965 e nós [pesquisadores] não tínhamos nos preocupado em atualizá-lo até hoje”, disse Rodrigues, ressaltando a importância da pesquisa científica para sustentar políticas públicas. Na parte da manhã, cientistas apresentaram os impactos que grupos taxonômicos específicos poderiam sofrer no caso de ser aprovada a proposta do novo código aprovada pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados. Os palestrantes foram convidados a usar suas apresentações como ponto de partida para artigos científicos, que serão submetidos para publicação na próxima edição da revista Biota Neotropica. Lilian Casatti, professora do campus de São José do Rio Preto da Universidade Estadual Paulista (Unesp), falou sobre possíveis impactos aos peixes. Um dos principais problemas da proposta de revisão do código, segundo ela, seria a redução na largura das matas ripárias – que acompanham os cursos d’água – de 30 metros para 15 metros em riachos e ribeirões com menos de 5 metros de largura. De acordo com a pesquisadora, isso afetaria a ictiofauna em vários aspectos. Sem a cobertura vegetal ciliar os peixes estariam mais expostos à luz solar. Espécies que possuem larvas sensíveis à radiação ultravioleta seriam reduzidas. Peixes que utilizam a identificação visual para selecionar parceiros também seriam prejudicados e várias cadeias tróficas seriam irremediavelmente alteradas. “Muitos peixes se alimentam de determinados insetos que, por sua vez, alimentam-se de certas folhas dessas matas. Há estudos apontando que, com menos matas, os peixes perdem biomassa. causando perdas genéticas e até de espécies”, disse. A perda da cobertura vegetal ripária também causaria o aumento na turbidez dos rios devido ao assoreamento, o qual também provocaria a entrada de poluentes no curso d’água. Um dos maiores prejuízos seria a extinção de diversas espécies de peixes. Estudos realizados no Estado de São Paulo mostram que o maior número de espécies está concentrado em pequenos córregos. No Estado, foram encontradas 344 espécies – do total de 2.587 peixes brasileiros de água doce – e 66 estão ameaçadas, sendo que 45 vivem em pequenos ambientes. “Essas espécies vivem em apenas 10 metros quadrados, em média, durante toda a vida”, disse Lilian, para ilustrar que até perdas de pequenas porções de vegetação natural podem resultar no desaparecimento de diversos táxons. Segundo a professora da Unesp, os pequenos cursos d’água guardam uma grande diversidade genética que estaria ameaçada após as mudanças no Código Florestal. A região de São José dos Dourados (SP), estudada por Lilian, possui 4 mil quilômetros de pequenos rios enquanto que o rio principal tem apenas 220 quilômetros. “Nessa região, entre 61% a 78% dos córregos já estão cercados pela plantação de cana-de-açúcar, eles não podem se dar ao luxo de ter mais áreas reduzidas”, afirmou. Problemas agravados Felipe Toledo, do Museu de Zoologia da Unicamp, falou sobre os possíveis impactos em anfíbios. Habitantes da água, dos biomas terrestres e das áreas de transição entre ambos, os anfíbios seriam um dos grupos mais afetados pela redução das matas ripárias. “Em todo o mundo, os anfíbios formam o grupo mais ameaçado da natureza, com 32,5% das espécies sob risco”, disse. Bastante sensíveis às alterações ambientais, os anfíbios já são afetados pelos efeitos das mudanças climáticas globais, que secam trechos de riachos e lagos,expondo ovas a predadores e intempéries. Por respirar através da pele, o grupo também tem sentido os efeitos do uso de defensivos agrícolas, sendo registrados muitos casos de má formação de sapos e rãs que os tornam presas fáceis de predadores. Todos esses problemas seriam agravados com a aprovação das mudanças no Código Florestal, segundo Toledo. Como agravante, muitos anfíbios dependem de espécies específicas de plantas para se reproduzir. Alguns só se acasalam em bromélias, outros em certos tipos de bambus e uma espécie de rã depende de plantas com folhas dobráveis para o acasalamento. A perda desses vegetais poderia também representar o desaparecimento dos anfíbios que deles dependem. Os impactos potenciais nos répteis foi apresentado por Otávio Marques, pesquisador do Instituto Butantan. O grupo taxonômico tem 20% de suas espécies sob ameaça de extinção em todo o planeta e a maior causa disso seria a perda dos habitats, o que seria agravado com a aprovação da proposta que está no Congresso. “O atual código também erra ao permitir a compensação de uma área desmatada com a preservação de outra área dentro do mesmo bioma. Uma espécie que habita um local pode não viver em outro”, afirmou. Sob o ponto de vista econômico, o país perde com a perda da biodiversidade. Anfíbios e répteis fornecem moléculas complexas que podem ser aplicadas em fármacos. “O anti-hipertensivo desenvolvido a partir do veneno da jararaca rende US$ 5 bilhões ao laboratório que o criou”, exemplificou Marques. A ausência de anfíbios e peixes provocaria um aumento nas populações de insetos, representando um aumento de doenças na população e de pragas na agricultura, resultando em maior necessidade de agrotóxicos. Novas doenças surgiriam no gado originadas pela perda do habitat de cervos, segundo apontou Mauro Galetti, professor do campus de Rio Claro da Unesp, que analisou os efeitos potenciais da revisão do Código Florestal sobre os mamíferos. A proximidade do gado com os cervos que perdem seus ambientes provoca trocas de doenças entre as duas espécies. Boa parte dos mamíferos prefere viver próximos a matas ripárias e, de acordo com Galetti, a redução dessas matas exporia os animais a predadores, a caçadores e a acidentes como atropelamentos. O ornitólogo Pedro Ferreira Develey, da Save Brasil, apontou que muitas aves dependem de pequenas ilhas de vegetação nativa, sendo que várias espécies não saem dessas matas. “Elas tem fotofobia e estão acostumadas a viver na sombra, por isso não saem para áreas abertas”, disse. O Brasil tem 17 de suas espécies de aves ameaçadas de extinção habitando matas ripárias, por isso, reduzir esses biomas poderia ser o golpe de misericórdia para algumas delas, destacou Develey. Vera Fonseca, professora do Instituto de Biologia da USP, falou sobre possíveis consequências para abelhas da proposta de revisão do código . “Responsáveis pela polinização de boa parte da produção agrícola brasileira, o desaparecimento de espécies desses insetos seria um desastre para inúmeras culturas, como o maracujá, o açaí, o cupuaçu e a castanha-do-pará”, disse. Giselda Durigan, do Instituto Florestal, falou sobre o Cerrado, onde estão localizadas as principais bacias hidrográficas do Brasil. O bioma, ao mesmo tempo, é considerado o celeiro do país, por concentrar boa parte da produção agrícola nacional. A cientista narrou os esforços de se recuperar a vegetação nativa do Cerrado, em muitos casos impossível, devido ao alto nível de degradação do solo. José Galizia Tundisi, do campus de São Carlos da USP, falou sobre os impactos hídricos que a redução de cobertura vegetal nativa prevista no novo código poderia trazer. “Reduzir as matas ciliares que agem como tampões de proteção atingiria diretamente a qualidade das águas, aumentaria a toxicidade, reduziria ainda mais o nível dos rios por causa de assoreamento e encheria a água de sedimentos, aumentando o custo do tratamento”, disse. Segundo Tundisi, na região do Baixo Cotia, em São Paulo, por exemplo, o custo para tratar mil metros cúbicos de água é de cerca de R$ 300. Em comparação, o tratamento da mesma quantidade em uma cidade que possui rios com proteção de matas ciliares em seus mananciais cai para R$ 2. A própria agricultura seria prejudicada. “Aumentar a área agrícola reduzindo a mata ciliar reduzirá a água disponível. É um tiro no próprio pé”, disse. Conservação com expansão Sérgius Gandolfi, da Esalq-USP, previu um apagão hídrico e citou como exemplo a usina hidrelétrica de Assis Chateaubriand, no Mato Grosso do Sul, que viu seu reservatório desaparecer por causa dos danos causados aos pequenos rios que o abasteciam. Gandolfi também criticou vários aspectos da proposta de revisão do Código Florestal, como a previsão de concessão de incentivos aos produtores rurais à guisa de incentivo ao reflorestamento. “Isso é o mesmo que fazer o governo pagar para que industriais instalem filtros em suas fábricas. No Estado de São Paulo são 324.601 propriedades rurais, se o governo gastar R$ 10 para cada uma, serão mais de R$ 3 milhões em dinheiro público gastos para pagar uma obrigação dos produtores”, comparou. O pesquisador também chamou a atenção para uma alteração que reduz ainda mais a área preservada. A versão atual do Código Florestal considera a margem do rio no período de cheia, chamado de leito maior. Entre as alterações previstas na revisão está a medição das margens a partir do leito menor, quando o rio está mais baixo. “O assoreamento atingiria principalmente os rios mais frágeis, ou seja, os menores, que são cerca de 90% dos rios do país”, disse Gandolfi. Rodrigues apresentou o programa desenvolvido na Esalq-USP de adequação ambientais de propriedades rurais. Sua equipe encontrou diversas propriedades com possibilidade de aumentar a área agrícola sem ferir o atual Código Florestal. “Não estão usando toda a área a que têm direito para plantar”, disse. “Esse projeto de lei [a revisão do Código Florestal] veio em um momento muito ruim, pois vários proprietários rurais já estavam se conscientizando sobre a importância de cumprir o código atual”, disse Rodrigues, ressaltando que aqueles que se comprometeram a recuperar as áreas vigentes serão punidos com as alterações no código. Geld Sparovek, também da Esalq-USP, explicou por que a conservação ambiental não impede a expansão das fronteiras agrícolas, apresentando vários estudos que mostram possibilidades de crescimento da área plantada sem atingir a vegetação a ser preservada. Novo debate e alternativas Nos encaminhamentos finais do encontro, os participantes decidiram que os sumários das apresentações serão encaminhados ao grupo de trabalho, organizado pela SBPC e ABC, que vem discutindo a proposta de mudança do Código Florestal. Os palestrantes também se comprometeram a participar de uma segunda reunião, quando será apresentado um documento executivo que proponha alternativas. Outra proposta – que ainda será avaliada – será a organização de um debate com representantes da comunidade científica, políticos e jornalistas do país e do exterior. “O objetivo é tornar o debate público e mais acessível a toda a sociedade”, disse Joly. “A reunião foi excelente pela qualidade das apresentações. Os pesquisadores já estavam preocupados com os aspectos salientados, eles já estavam trabalhando com essas questões há tempos. Isso demonstra uma consistência muito grande entre pesquisadores de diferentes áreas. Vamos reunir essas informações em um documento que sintetize o que foi apresentado para que, com ele, possamos abrir espaço para uma discussão mais ampla com liderança partidárias”, afirmou. Fonte: Agência FAPESP
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