18.6.11

Uma reflexão etica sobre o impacto antropogenico no meio ambiente


Autor: Sergio'>http://www.artigonal.com/authors/497248">Sergio Sebold

I – INTRODUÇÃO

             A presente pesquisa visa identificar o quadro das discussões a nível internacional sobre o homem e sua interferência ambiental e algumas reflexões sobre o futuro.

            A pesquisa demonstra uma preocupação nos últimos 50 anos sobre os níveis de degradação do meio ambiente, através de estudos, relatórios, conclusões e propostas na busca de soluções urgentes até dramáticas do impacto antropogênico no meio ambiente. Neste particular permitimo-nos fazer uma referência inicial e uma reflexão sobre uma passagem do sociólogo (TOURAINE, 1998, p. 63):

"Estamos diante de um enigma: pode-se combinar o liberalismo e a comunidade, o mercado e a identidade cultural? Podemos viver juntos, ao mesmo tempo iguais e diferentes? (...) Podemos fugir da escolha entre duas soluções igualmente destruidoras, a saber: viver juntos pondo de lado nossas diferenças, ou viver separadamente em comunidades homogêneas que só se comunicarão pelo mercado e pela violência?

           Observa-se também, uma convergência de apoio às propostas de soluções radicais dos países chamado periféricos que venham beneficiar a todos. Entretanto, os países ditos industrializados, com mais responsabilidade pela deterioração do meio ambiente principalmente pela poluição e o esgotamento dos recursos naturais, oferecem maior resistência a qualquer medida que possa prejudicar seu conforto e principalmente a manutenção do crescimento de seus índices econômicos.

            Diante das propostas apresentadas nas mais diferentes formas de diálogos internacionais, levanta-se algumas perguntas e reflexões sobre o futuro da humanidade a beira de uma catástrofe ecológica, reconhecida principalmente em 2002 na conferência de Joanesburgo (África do Sul).   

II  - INFLUENCIA DO HOMEM NO MEIO AMBIENTE

             O encontro mundial dos paises em Joanesburgo para realização da Cúpula da Terra, sobre clima e o meio ambiente, também chamado Rio+10, tem demonstrado a necessidade da busca de acordos a nível internacional com enfoque global de uma gestão mais eficaz das interferências do ser humano no meio ambiente que ele está inserido.

            Nos primeiros anos de existência da ONU, a questão ambiental ainda não se colocava como uma preocupação comum que merecesse devida atenção, como também ocorria pela ótica do bem estar ecológico. Alguns trabalhos científicos posteriores nas décadas de 60 e 70 começaram alertar a comunidade internacional sobre os perigos jacentes da degradação do meio ambiente que começava se esboçar no horizonte.          Em decorrência da pressão da mídia internacional, ocorreu a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano em Estocolmo, Julho de l972, com a "Declaração sobre o Ambiente Humano" traduzido como a declaração de Estocolmo. Numa das passagens da declaração dizia: "às gerações presentes como as futuras, tenham reconhecidas como direito fundamental, à vida num ambiente sadio e não degradado".

                 Em 1973, o canadense Maurice Strong, criou a expressão "ecodesenvolvimento" cujos princípios seriam: satisfação das necessidades básicas, solidariedade com as futuras gerações, participação da população envolvida, preservação dos recursos naturais e meio ambiente, elaboração de um sistema social capaz de garantir emprego, segurança social e respeito a outras culturas e programas de educação.  Nesta oportunidade "constatou-se que o modelo tradicional de crescimento econômico levaria ao esgotamento completo dos recursos naturais, pondo em risco a vida no planeta" (GADOTTI, 2002).

            Da Declaração de Estocolmo, gerou o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) em 1980, com a publicação do documento Uma Estratégia Mundial para a Conservação do Meio Ambiente, reafirmando assim a visão crítica do modelo desenvolvimentista adotado pelos países industrializados.

                Em 1987, o relatório Brundtland  apresentou as conclusões da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMAD) das Nações Unidas. Presidida na ocasião por Gro Harlem Brundtland, primeira ministra da Noruega, que em sua homenagem tornou-se conhecido como "Relatório Brundtland" Este relatório com o título de Nosso Futuro Comum, apontou para a incompatibilidade entre o desenvolvimento sustentável com os padrões de produção e consumo vigentes. Nesse documento definia-se o desenvolvimento sustentável como aquele que "satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades" (GADOTTI, 2002).

            O marco definitivo deu-se com a Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD/UNCED), realizado na cidade do Rio de Janeiro em 1992. Pelas dimensões e alcance dos temas abordados, foi denominado também de "Cúpula da Terra", por ter sido o maior encontro internacional de todos os tempos até então, pela participação recorde de 175 países e 102 chefes de estado e de governo, que passou para a história como ECO-92 ou RIO-92.

            As dimensões deste encontro permitiram um leque de abordagens inter disciplinar entre as quais se destacam: arsenal nuclear, desarmamento, guerra, desertificação, desmatamento, crianças abandonadas, poluição, chuva ácida, crescimento populacional, povos indígenas, mulheres, fome, drogas, refugiados, água potável, concentração da produção e da tecnologia, tortura, desaparecidos, discriminação e racismo. Nesta mesma oportunidade, houve também, paralelamente, o Fórum Global 92, onde participaram mais de 10 mil representantes de Organizações Não Governamentais (ONG´s) das mais variadas atividades de todo o mundo, onde foram discutidos temas relevantes sobre mulheres, crianças, jovens e índios. Em decorrência foi elaborada a primeira minuta da "Carta da Terra", onde conclama, a todos os participantes a adotarem o seu espírito e os seus princípios, em nível individual e social através de ações concretas das ONG´s signatárias.

            Como resultado da conferência RIO-92, foi proposto um modelo de desenvolvimento comprometido acima de tudo com a preservação da vida no planeta. O maior e mais importante documento produzido foi a chamada AGENDA 21. Este documento compõe-se de 40 capítulos, com mais de 800 páginas num detalhado programa de ações sobre meio ambiente e desenvolvimento. Ela não é uma agenda ambiental, mas uma agenda para o desenvolvimento sustentável, cujo objetivo final é a promoção de um novo modelo de desenvolvimento. Não sendo um documento normativo, não obriga as nações signatárias a cumpri-la, mas sim um documento que se reduz a um compromisso ético por parte delas.  Gadotti, já citado diz:

"Nenhuma nação é periférica: impõe-se a necessidade de colaboração entre o Norte e o Sul porque existe uma complementariedade dos problemas e caminhos para as soluções entre paises do primeiro e do terceiro mundo. As ameaças da atual crise econômica e ambiental estão plantadas no modelo de desenvolvimento ainda hoje aceito, caracterizado por uma economia de opulência e desperdício do Norte, e de pobreza, desigualdade e necessidades prementes de sobrevivência em curto prazo no sul".

         O projeto da Carta da Terra inspira-se numa variedade de fontes, incluindo a ecologia e outras ciências contemporâneas, tradições religiosas e filosóficas do mundo, literatura sobre ética global, meio ambiente e o desenvolvimento, experiência prática dos povos que vivem de maneira sustentada, além das declarações e dos tratados intergovernamentais e não-governamentais relevantes. Uma vez aprovada pela ONU, ela será equivalente à Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada pelas Nações Unidas em 1948 no que concerne à sustentabilidade, à equidade e à justiça. A sustentação deste código se insere nos cinco eixos éticos: 1) Direitos Humanos, 2) Democracia e participação, 3) Equidade, 4) Proteção das minorias, e 5) Resolução pacífica dos conflitos.

            O discurso ecológico de Antonio Lago, citado por Gadotti, é taxativo: "os mais pobres são os que recebem com maior impacto os efeitos da degradação ambiental, com agravante de não terem acesso às condições favoráveis de saneamento, alimentação, etc. e não poderem se utilizar dos artifícios de que os mais ricos normalmente se valem para escapar do espaço urbano poluído (casas de campo, viagens, etc.)". No movimento ecológico como em todo o movimento social e político, se manifestam os mais diversos interesses, inclusive de grandes corporações.


  • Desenvolvimento Sustentável versus Crescimento Econômico

            A percepção de que a atividade econômica cada vez mais gera toda a sorte de poluição e depósito de resíduos no meio ambiente, fez com que no início da década de 70, surgisse a tese do "Crescimento Zero", onde se relacionava diretamente o crescimento econômico com a degradação ambiental.

            O relatório "Limites do crescimento" adotado pelo Clube de Roma (C.R.) (originalmente desenvolvido por Meadows do MIT), como sua bandeira, entre outros aspectos, denunciava que:

" (...) o crescimento mundial ocasionaria um limite de crescimento e um possível colapso do ecossistema global, (...)  alertava ainda, para a preocupação com as principais tendências do ecossistema mundial, extraídas do modelo global, articulando cinco parâmetros: industrialização acelerada, forte crescimento populacional, insuficiência crescente da produção de alimentos,  esgotamento dos recursos naturais não renováveis e degradação irreversível do meio ambiente (...) mantido o ritmo de crescimento, os alimentos e a produção industrial iriam declinar até o ano 2010 e, a partir daí, provocar automaticamente uma diminuição da população por penúria, falta de alimentos e poluição; nesse sentido, a crise do petróleo de 1973 veio constituir-se em importante fator de debate em torno da tendência  da escassez e esgotabilidade dos recursos naturais e da necessidade de humanização do crescimento, através de mudanças quantitativas  e principalmente qualitativas do processo (TAYRA, 2002)". 

           O conceito de Desenvolvimento Sustentável surgido na década de 80, visava conciliar crescimento econômico com a preservação e controle ambiental. Apesar da boa acolhida, principalmente pelos paises industrializados, o conceito encontraria grandes dificuldades de sua implementação. "Uma das dificuldades é que a geração futura não participa das discussões deste mercado de hoje, somente a consciência elevada da preservação da espécie e da própria vida é que serve de motivação às pessoas para que adotem ações preventivas à degradação ambiental, hoje observada" (MOURA, 2000).  O impacto de sua aplicação seria maior no mercado de trabalho, em crise, pelo grande contingente de desempregados como também dos jovens que se iniciam no mercado demandando altas taxas de crescimento para a geração de novos postos de trabalho. Sob esta lógica, maior crescimento econômico significaria mais emprego e por conseqüência, um incremento de insumos de matérias primas tomadas do meio ambiente. Diante dessas observações "parece que o homem se encontra numa verdadeira encruzilhada: eliminação da pobreza versus conservação ambiental" (BELLI, 2000).

            A experiência tem demonstrado que o processo de crescimento mundial nas ultimas décadas foi também acompanhado pela degradação ambiental, pelo uso excessivo dos recursos naturais. Insere-se neste contexto: os processos de urbanização acelerada pelo deslocamento da mão de obra agrícola ociosa pela alta mecanização agrícola; crescimento e desigualdade da distribuição demográfica; expansão descontrolada do uso da energia nuclear, mesmo com finalidades pacíficas; consumo excessivo de recursos não renováveis, carvão mineral, petróleo, etc.; perdas crescentes de áreas agrícolas pela desertificação do solo; contaminação tóxica dos recursos naturais, como rios, lagos, mares, mananciais, lençóis aqüíferos etc.; desmatamento ou desflorestamento; redução da biodiversidade e da diversidade cultural, esta pela introdução da cultura de massa (grande consumo); geração do efeito estufa e a redução da camada de ozônio e suas implicações sobre o equilíbrio climático global. "Mais recentemente os analistas da problemática ambiental têm reconhecido que pobreza e ecologia são realidades interdependentes" (TAYRA, 2002). 

            A interferência antropogênica se torna cada vez mais o principal causador de  mudanças ecológicas, tanto em níveis globais como locais, em decorrência do crescimento desordenado da população,  particularmente na segunda metade do século XX, pondo em perigo a sua própria existência, quando no mínimo das gerações futuras.

            Numa profecia sombria, Malthus (1798) descreveu que a população cresce a taxas geométricas enquanto a agricultura cresce a taxas aritméticas numa visão de longo prazo. Haveria de tempos em tempos um colapso através de guerras, fomes e flagelos generalizados na busca de novo equilíbrio.

            Por sua vez, Merico (2002), conclui que:

(...) a população mundial dobrou, sendo que no mesmo período o produto mundial bruto e o consumo de combustíveis fósseis quadruplicaram. (...) mais crescimento econômico, nos atuais padrões de produção e consumo, (...) irá aumentar os custos mais rapidamente que os aumentos dos benefícios, entrando-se em uma era de crescimento antieconômico, o qual empobrece mais do que enriquece".    

            Quatro grandes desastres ambientais e humanos da década de 70 e 80 -  vazamento nuclear na Pensilvânia (EUA) em 1979; vazamento de pesticidas em Bhopal (Índia) em 1989; explosão de um reator nuclear de Chernobyl na antiga União Soviética em 1986 e o vazamento de petróleo do navio Exxon Valdez, na costa do Alasca em 1989 e agora (2011) desastre dos reatores nucleares de Fukushima no Japão - fizeram com que se tomasse consciência de que o problema ambiental deve ser discutido a nível global e urgente.

            O desenvolvimento e o meio ambiente, indissoluvelmente vinculados, devem ser tratados mediante a mudança de conteúdos das modalidades e das utilizações do crescimento, por três critérios fundamentais: equidade social, prudência ecológica e eficiência humana.

            Ignacy Sachs assim como Strong, usando citação de Tayra, apontam cinco dimensões da sustentabilidade: a econômica, a cultural, a ecológica, a espacial e a social.

            Reconhece-se por sua vez que a pobreza, a deterioração do meio ambiente e o crescimento populacional estão indiscutivelmente interligados. Nenhum deles pode ser resolvido de forma isolada.  A degradação ambiental agrava as condições de vida dos mais pobres, a pobreza por sua vez, conduz a uma exploração predatória dos recursos naturais, fechando um círculo perverso de prejuízos sócio-ambientais. São os mais pobres aqueles que não possuem empregos, por conseqüência, são também os que mais filhos têm.

            O crescente número de pobres e desempregados é apenas mais uma face da insustentabilidade do atual modelo ou sistema vigente. O crescimento econômico medido pelo PIB, não é acompanhado proporcionalmente pela criação de mais postos de trabalho. Taxas de crescimento econômica zero ou pior ainda negativa, traduzir-se-ão necessariamente  em altas taxas de desemprego, conseqüentemente mais pobreza.

            Embora, os economistas têm se apercebido, pela ótica keynesiana do inter-relacionamento das variáveis agregadas macroeconômicas Produto Interno Bruto (PIB) e as taxas de Desemprego, pouco se têm pesquisado sobre os efeitos destas duas variáveis no meio ambiente.            

                O Desemprego afetará o PIB pela não produção, como também a degradação do meio ambiente, na busca voraz de recursos de sobrevivência. Pela Lei de Okun, "o desemprego é inversamente proporcional ao crescimento do PIB".

             Segundo Merico deve-se buscar um equilíbrio ou sustentabilidade, assentado sobre dois pontos primordiais: a) Não utilização dos recursos renováveis, em uma taxa acima de sua capacidade de regeneração; e b) Não descartar  na natureza, mais resíduos do que sua capacidade de assimilação.


  • A "ecodiplomacia"

            Paralelamente aos esforços desenvolvidos em torno dos problemas ambientais, através da ONU assim como de entidades independentes e acadêmicas, também foram na busca da eficiência prática desenvolvidos no campo diplomático.  A estes esforços de encontros tanto a nível bilateral como multilateral se deu o nome de "ecodiplomacia".

            A ecodiplomacia tem passado por varias etapas sendo considerada a primeira através das idéias desenvolvidas no C.R., que continuam fundamentar as concepções da maior parte das organizações ambientalistas. Criado em 1968, congrega cientistas, economistas, e altos funcionários governamentais, com a finalidade de interpretar sob a perspectiva ecológica o "sistema global".

            A base central do pensamento do C.R. reside no conceito de que o planeta é um sistema finito de recursos, submetido às pressões do crescimento exponencial da população e da produção econômica. As suas conclusões de longo prazo apontavam para um colapso do sistema, retornando com todo vigor as teses malthusianas. As propostas se centravam em torno da noção de um gerenciamento global da demografia e da economia, a fim de encontrar um estado de equilíbrio dinâmico. Havia assim a necessidade de acordos diplomáticos com caráter de urgência, diante do perigo ameaçador, principalmente, sobre itens de abrangência planetária, como clima, temperatura global, degradação ambiental, pobreza, camada de ozônio, proliferação nuclear etc.

            A conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo em 1972, pode-se dizer foi o marco desta primeira etapa de esforços diplomáticos.

            A segunda etapa da "ecodiplomacia" considerada pelos historiadores, é a Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e  Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Dela emergiram discussões sobre o meio ambiente e desenvolvimento, "politizando" definitivamente o debate. Adquire neste encontro expressão forte e dominante os conceitos de desenvolvimento sustentável, "vinculando estratégias econômicas destinadas a promover o crescimento da riqueza e a melhoria das condições de vida através de modelos capazes de evitar a degradação ambiental e a exaustão dos recursos naturais" (MAGNOLI, 2002).

            O protocolo de Kyoto firmado em 1997 e anexado à Convenção do Clima, inaugurou a terceira etapa da "ecodiplomacia". Nesta oportunidade foi fixado o compromisso de redução de 5% nos níveis de emissões poluentes de 1990, a ser atingida entre 2008 e 2012. Infelizmente os Estados Unidos, a maior nação econômica do planeta e a mais responsável pela emissão, foi a única a se negar assinar  este protocolo de 179 nações representadas, quando da conferência sobre mudanças climáticas realizada em Bonn (Alemanha) no final de julho de 2001.

            No artigo de (FERREIRA & COELHO, 2001) na revista UNIVALI é desenvolvido um quadro sinóptico dos eventos acima, onde nos permitimos acrescentar a Rio+10, ou chamada conferência de Joanesburgo. Esta conferência, chamada também de ECO-10, encerrou com poucas decisões de profundidade, cujo principal documento da Cúpula da Terra, será o marco de atuação para os próximos anos. O principal ponto do plano de ação adotado se refere ao acesso à água potável;  recomendações e objetivos que tentam conciliar crescimento econômico; justiça social e proteção do meio ambiente, principalmente no que se relaciona a biodiversidade; pesca, produtos químicos, energia e mais, sobre a eficiência dos governos; ajuda financeira ao desenvolvimento e acesso ao mercado de produtos dos paises pobres e subvenções agrícolas.

III – UMA ANALISE CRITICA

            Os relatórios de que resultaram as mais diversas formas dos encontros mundiais de maneira isolada ou patrocinada por órgãos da ONU até 1987, sempre tiveram como tônica a observação dos fatos sob o modelo econômico até hoje vigente, com base no liberalismo econômico pregado por Adam Smith, na sua obra "A Riqueza das Nações".

            O modelo desenvolvido por Smith, satisfazia os interesses da nação que emergia industrial e economicamente, a Inglaterra, esta para justificar sua presença em vários domínios do planeta. A liberdade de iniciativa pregada e o espírito competitivista  à sua época,  sutilmente satisfaziam os interesses ingleses ao redor do mundo principalmente com relação a suas colônias. O livre comércio que era outra bandeira levava a condição de plena exploração destas colônias. Da teoria acadêmica a sua aplicação prática, via-se nitidamente uma postura para que outros a praticassem, mas mantendo a condição de proteção de seu sistema industrial. Nunca o protecionismo foi tão forte na Inglaterra e nos Estados Unidos (seu caudatário), como nos anos recentes. Ou seja, liberdade de mercado para os outros, não para nós. Sem entrar num clima apaixonado, a atitude destes paises reflete a verdadeira lógica do poder.

            A lógica da formação de capital está na extração contínua dos recursos naturais obtidas de forma gratuita sem qualquer compromisso ético de sua renovação. É bem verdade, que naquelas priscas eras (anteriores ao século XIX), os recursos eram abundantes principalmente fora das fronteiras da Europa, e sem nenhum conhecimento de seus limites em termos técnicos ou quantitativos, que se permitiam ao luxo destes pensamentos.

            O desespero e a resistência dos chamados países industrializados sobre o relatório do C.R., é decorrente de que uma série de mudanças econômicas, sociais e até culturais, seriam necessárias para busca de um novo equilíbrio entre os interesses econômicos e o meio ambiente.  E isto nada interessava a este grupo de países, preocupados com o problema de seu desemprego. Ou seja, a morte pela inanição de milhões de seres humanos nos paises ditos periféricos, principalmente os da África é menos importante do que uma crise de desemprego naqueles países. É necessário, como argumentam, manter a qualquer custo as condições de empregabilidade de suas sociedades, mesmo ao sacrifício de perdas irreversíveis para meio ambiente e muito pior para as futuras gerações.

            O relatório do C.R., em termos catastrofais, alertava que mantidas as condições atuais do modelo, entraremos verdadeiramente num processo de decrescimento econômico quer queiramos ou não.

            A propósito inserimos um comentário de LIPIETZ, (1991, p.80) sobre o impasse do produtivismo:

"Acabaram-se os limites, de fato. "Tudo pelo emprego!".  Isto é, tudo pelo crescimento do consumo dos "ganhadores", pelo festim cujas migalhas caem por cima dos esquecidos. E que importância tem se a eletricidade dos letreiros em néon devora os combustíveis fósseis arrancados do coração da terra para irem, queimados, saturar a atmosfera com gás carbônico, com compostos sulfurados, com metano e óxidos de nitrogênio! Que importância tem se as centrais nucleares acumulam em seu centro, resíduos radioativos que não interessam às gerações futuras – e isso se daqui até lá essas centrais, não explodirem em nossa cara! (...) "Tudo pela exportação". (...) Azar se a soja e a cana de açúcar esgotam os solos depois de eliminar as culturas de víveres, bem como os pequenos camponeses. Azar se, ao queimar a Amazônia, sobrecarrega-se de gás carbônico uma atmosfera já saturada pelos carros e pelas fábricas do Norte. Depois de nós, o "dilúvio".  Como dizia o próprio Keynes, "á longo prazo, estaremos todos mortos". E agora Keynes está morto, e nós atolados no longo prazo. Como a dívida financeira, a dívida ecológica será paga em dia, e aí não haverá moratória".

            O relatório Brundtland veio aliviar esta angústia com a proposta de um desenvolvimento sustentável, buscando um novo equilíbrio de compromissos de ambos os lados, crescimento sim, mas com a preservação do meio ambiente. Esta proposta, que já nos referimos anteriormente, dá um novo sentido à vida, principalmente quando teve o cunho da sensibilidade feminina na pessoa da Sra. Gro Harlem Brudtland. Somente o espírito feminino poderia dar um sentido novo, com preocupação da preservação e perpetuação da vida.

IV – CONCLUSÃO E REFLEXÕES

            As referências anteriormente citadas deixam claras as grandes preocupações contemporâneas universais sobre a presença do homem no contexto do meio ambiente. A busca cada vez mais urgente e talvez até dramática do equilíbrio ecológico, sob pena de perdas irrecuperáveis, tanto na biodiversidade como na impossibilidade de repor os recursos renováveis poderá levar a um colapso no abastecimento das necessidades humanas.

            Os encontros mundiais relacionados à degradação ambiental, poluição, miséria, clima, camada de ozônio, proliferação nuclear, contaminação e escassiamento das águas potáveis, o efeito estufa, devastação florestal, desertificação, salinização, eliminação dos mangues, eliminação de corais, desastres e acidentes ecológicos,  demonstram uma nova consciência ética, a nível internacional, uma vez que todos estes fatos atingem indistintamente quaisquer pais deste planeta. Cabe aqui, uma referencia especial sobre a visão sociológica de SANTOS, (1995, p. 296):

"De todos os problemas enfrentados pelo sistema mundial, a degradação ambiental é talvez o mais intrinsecamente transnacional e, portanto, aquele que, consoante o modo como for enfrentado, tanto pode redundar num conflito global entre o  Norte e o Sul, como pode  ser a plataforma para um exercício de solidariedade transnacional intergeracional. O futuro está, por assim dizer, aberto às ambas  possibilidades, embora só seja nosso na medida em que a segunda prevalecer sobre a primeira. As perspectivas não são, no entanto animadoras. (...) o Norte não parece disposto a abandonar seus hábitos poluidores e muito menos á contribuir, na medida de seus recursos e responsabilidades, para uma mudança dos hábitos poluidores do Sul, que são mais uma questão de necessidade que uma questão de opção".

            A nova consciência ética obriga uma reflexão profunda da melhor e mais justa distribuição possível dos recursos disponíveis entre todos os paises do mundo. Há de se rever toda uma lógica de poder ou dominação desenvolvida através dos séculos da história humana, para uma nova lógica de solidariedade, através do equilíbrio dos recursos finitos e limitados, atualmente conhecidos e quantificados. Esta lógica deve contemplar a atual geração tanto como as gerações que virão como compromisso da perpetuação da vida sobre este planeta terra. Este será o desafio do nosso tempo e desta geração.



BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA:

BRAUN, Ricardo. Desenvolvimento ao ponto sustentável – novos paradigmas ambientais. Petrópolis: Vozes, 2001.

BELLI, Ari. Da economia clássica a economia ecológica. Rev. Alcance

     (Administração), UNIVALI – Itajaí, Ano VII, n. 1 p. 27 – 33,  Junho 2000.

FERREIRA, E. & COELHO C. As empresas e o desenvolvimento sustentável. Rev.

     Alcance (Administração) Ano VII, n. 1 p. 49 – 54, Junho 2000.

GADOTTI, Moacir. "Agenda 21 e Carta da Terra" (Via On Line), apturado em: 09/09/2002.

GIBSON, K. & GRAHAM, J. O fim do capitalismo – (como nós o conhecíamos) – b 

     uma critica feminista da economia política. Do original  "The end of capitalism 

    (as we know  it): a feminist critique of political economy". Trad. Jorge Menezes.

      Lisboa:  Instituto Piaget, 1996.

HEILBRONER, Robert L. Introdução à historia das idéias econômicas, 3a. Ed.

     Tradução de Valtensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1969. 

LIPIETZ, Alain. Audácia – uma alternativa para o século XXI. Trad. Estela dos

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MAGNOLI, Demetrio. O protocolo de Kyoto e a terceira etapa da "ecodiplomacia".  

     (Via On Line). Capturado em 19/10/2002.

MERICO, Luiz F. K. Introdução a economia ecológica. 2. ed. Blumenau: Edifurb,

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MOURA, Luiz A. A. de. Economia Ambiental – gestão de custos e investimentos.

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SANTOS, Boaventura de S. Pela mão de Alice – o social e o político na pós-

     modernidade. Ed. 5a. São Paulo: Cortez, 1999.

TAYRA, Flavio. A relação entre o mundo do trabalho e o meio ambiente: limites para

     o desenvolvimento sustentável. In IV Colóquio Internacional de Geocrítica "El

     Trabajo", Barcelona, Maio/2002. Capturado em 12/12/2002.

TOURAINE, Alain. Poderemos viver juntos? – iguais e diferentes.  Trad. Jaime A.

     Classen e Ephraim F. Alves. Rio de Janeiro: Vozes. 1998.
http://www.artigonal.com/meio-ambiente-artigos/uma-reflexao-etica-sobre-o-impacto-antropogenico-no-meio-ambiente-4798854.html

Perfil do Autor

Economista, Pós graduado em Economia Politica (Especialização), Engenharia de Produção - Pesquisa Operacional (Mestrado). Autor do livro: "Economizar e prosperar - é só começar" 2008.
   

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