8.11.09

PLANO DE MANEJO FLORESTAL (CAPITULO 2)

CENSO FLORESTALAPRESENTAÇÃO

O censo florestal é um inventário de todas as árvores de valor comercial existentes em uma área de exploração anual. As atividades de um censo são realizadas um a dois anos antes da exploração, envolvendo a demarcação dos talhões, abertura das trilhas de orientação, a identificação, localização e avaliação das árvores de valor comercial. Além disso, outras informações úteis ao planejamento da exploração e às práticas silviculturais, como presença de cursos d'água, áreas cipoálicas e variações topográficas também são verificadas durante o censo florestal.


PREPARAÇÃO DA ÁREA

Demarcação do talhão

No plano operacional, a área total a ser manejada é dividida em talhões. Em geral, a demarcação dos talhões na floresta é feita por uma equipe de quatro pessoas, sendo um orientador, responsável pelo alinhamento da demarcação, um balizador, cuja função é orientar a abertura das trilhas e fixar as balizas ao longo do perímetro dos talhões, e dois ajudantes que fazem a abertura das picadas. Para a demarcação do talhão deve-se:


Localizar a cabeceira (linha base) e as laterais do talhão. Utiliza-se algum marco referencial como uma estrada, rio ou marco de propriedade. Para maior precisão usar bússola com tripé na definição das linhas base e laterais. As picadas devem ser abertas com cerca de 1,5 metro de largura em torno dos limites do talhão.


Instalar balizas de madeira na cabeceira do talhão. A distância ideal entre uma baliza e outra é 50 metros. A primeira baliza deve estar no marco zero, a segunda, a 50 metros e assim por diante. As distâncias podem ser marcadas com caneta de tinta à prova d'água em fitas de plástico amarradas nas balizas. Outra opção é escrever com lápis de cera especial para madeira na própria baliza. É importante manter o registro da posição da baliza com a face voltada para a linha base, a fim de facilitar a visualização da equipe de planejamento.

Além disso, deve-se fixar marcos referenciais em cada um dos quatro cantos do talhão com estacas de madeira resistente.



Abertura das trilhas de orientação

Uma equipe de três pessoas (orientador, balizador e ajudante) abre trilhas dentro dos talhões da seguinte maneira:

1. Abrir trilhas a cada 50 metros em linhas perpendiculares à cabeceira do talhão. A trilha deve ter uma largura de aproximadamente 0,5 metro.
2. Colocar balizas com fitas coloridas ao longo da trilha a distâncias regulares (em geral, 25 metros). Desta maneira, a primeira baliza deve ser fixada no marco 0 (zero) metro, a segunda em 25 metros e assim por diante (Figura 3).
3. Ao final da trilha, a equipe deve se deslocar lateralmente 50 metros até a próxima baliza, de onde deve abrir uma nova trilha em direção à cabeceira. A numeração deve, portanto, ser feita inversamente. Por exemplo, em uma trilha de 1.000 metros, a primeira baliza seria fixada em 1.000 metros, a segunda em 975 metros e assim sucessivamente até retornar ao ponto 0 (zero) metro na cabeceira do talhão.




CENSO

O censo consiste na localização, identificação e avaliação das árvores de valor comercial, árvores matrizes (importantes para a regeneração da floresta) e árvores com potencial para cortes futuros. Os dados são anotados em uma ficha de campo e usados na elaboração do mapa do censo. Posteriormente, essas informações serão usadas para o planejamento da infra-estrutura da exploração.
Não há um modelo único para a ficha do censo. O modelo adotado neste manual contém informações como número da árvore, coordenadas x e y (para localização da árvore), nome das árvores (identificação), diâmetro à altura do peito (DAP), altura, qualidade do tronco, qualidade da copa, direção de queda (avaliação) e observações, tal como a presença de cipós.

O censo é realizado por uma equipe formada por dois ajudantes (laterais), um identificador (mateiro) e um anotador. Os dois laterais procuram as árvores a serem mapeadas percorrendo as trilhas, sendo cada um responsável por uma faixa de 25 metros, enquanto o identificador (mateiro) e o anotador se deslocam no meio da faixa. Os laterais também identificam, avaliam e localizam as árvores no talhão. A equipe procura as árvores até o final da trilha, voltando em sentido contrário na faixa seguinte.



ETAPAS DO CENSO

Identificação das árvores
A identificação das árvores de valor comercial deve ser feita por mateiros experientes. Quando houver mais de um mateiro envolvido na identificação, certifique-se de que eles conhecem as espécies pelo mesmo nome. Quando for possível, especialmente no escritório, associe o nome vulgar ao nome científico. Atenção especial deve ser dada para a denominação comum das espécies, pois espécies diferentes podem ter o mesmo nome comum, enquanto uma única espécie pode ter nomes comuns diferentes em diversas regiões. Em caso de dúvida, procure o herbário de instituições como Museu Goeldi
(Belém), Embrapa


Quais espécies incluir no censo?

Aproximadamente 350 espécies madeireiras são exploradas na Amazônia. Entretanto, nos pólos de produção madeireira mais afastados, o número de espécies economicamente viáveis pode ser menor. Por exemplo, na Região Oeste do Pará, o número de espécies exploradas (em 1996) era inferior a 50. Neste caso, deve-se incluir no censo as espécies sem valor atual para aquela região específica? A decisão depende das perspectivas de crescimento do setor madeireiro local e da ampliação do mercado de madeiras. Lembrando que a lista de espécies de madeiras economicamente viáveis tem aumentado nas duas últimas décadas, seria oportuno incluir também as espécies de valor
potencial. Isso ajudaria a planejar o manejo florestal a longo prazo e evitaria a necessidade de repetir o censo das árvores quando essas espécies entrarem no mercado.


Medição das árvores

Mede-se a circunferência ou o diâmetro da árvore para estimar o volume de madeira e ajudar na seleção das árvores a serem exploradas. A medição da circunferência pode ser feita com uma fita métrica, enquanto para a medição do diâmetro pode ser utilizada fita diamétrica ou uma suta.
A medição do diâmetro da árvore deve ser feita a uma altura de 1,30 metro do solo ou em torno da altura do peito do medidor (DAP). É aconselhável medir as árvores acima de 30 cm de DAP (cerca de 95 cm de rodo ou circunferência). As árvores maiores (DAP acima de 45 cm) são exploradas, enquanto as árvores menores (DAP 30 a 45 cm) devem ser reservadas para o próximo corte.



b. Medição acima das sapopemas. a. Medição à altura do peito.

Geralmente, todas as árvores de valor comercial acima de 45 cm de DAP são exploráveis no primeiro corte. Entretanto, para algumas espécies, o DAP mínimo de corte pode ser maior. Por exemplo, as árvores de jatobá (Hymenaea courbaril) e quaruba (Vochysia sp.) tem um alburno acentuado (parte branca da madeira sem valor), o que requer que essas espécies sejam cortadas com DAP maior (acima de 60 cm).

Para a medição de diâmetro deve-se tomar alguns cuidados:

· Medir apenas o diâmetro das árvores. Não incluir sapopemas, cipós, casas de cupins etc. Se a árvore apresenta um desses problemas no ponto de leitura, limpar o local ou medir a 30 cm acima desse ponto.
· Manter o instrumento de medição na posição horizontal em relação ao solo.
· No caso de medição de troncos irregulares, usar preferencialmente fita métrica ou diamétrica. No caso de usar a suta, fazer duas medidas e tirar a média.

Numeração das árvores no campo

Cada árvore deve corresponder a um número que a identificará. As árvores selecionadas para o corte atual podem ser diferenciadas das árvores para o próximo corte através de uma letra antes do número. Por exemplo:

A + Número Árvores potenciais para extração (DAP > 45 cm)
B + Número Árvores para o corte futuro (DAP entre 30 e 45 cm)

Os números devem ser impressos, preferencialmente, em plaquetas de alumínio (Figura 6). As plaquetas devem ser fixadas a uma altura média de 1,7 metro na casca da árvore com pregos comuns pequenos (3/4 de polegada) ou de alumínio para não danificar o tronco. Uma outra opção é usar a faca de seringueira, para fazer um corte superficial na casca das árvores, e um lápis de cera especial para escrever sobre a madeira. Nos dois casos, a marcação deve ser feita na face da árvore voltada para a linha base do talhão, facilitando a visualização.




Mapeamento das árvores

É comum anotar a posição de cada árvore, em sistema de coordenadas x e y, na ficha de campo. Neste caso, "x" é a distância de uma árvore para a trilha vizinha e "y" é a distância entre a árvore e a linha base mais próxima. Esses valores são fornecidos pelos ajudantes (laterais), que estimam os números com base nas distâncias anotadas nas balizas das trilhas.

Para facilitar a localização das coordenadas, anotar na ficha de campo a faixa onde se encontra a árvore inventariada. A numeração das faixas pode ser a seguinte: a "faixa 1" seria a área situada na cabeceira do talhão entre as balizas 0 e 50 metros, a "faixa 2" entre os pontos 50 e 100 metros e assim sucessivamente.

Embora seja menos precisa, outra forma para o mapeamento das árvores é indicar a sua posição com um símbolo (por exemplo, um ponto) diretamente no mapa do censo.

Estimativa da altura comercial

A estimativa da altura do tronco, que corresponde ao ponto de corte na base da árvore até a primeira bifurcação dos seus galhos, geralmente é feita a olho nu.


No entanto, para reduzir a margem de erro, pode-se estimar a altura do tronco através do "teste da vara". Cada membro da equipe faz o teste usando uma vara de altura conhecida (por exemplo, 3 metros). O medidor, a uma distância de 5 a 10 metros da árvore, estima quantas vezes o tronco é maior que a vara. O teste deve ser repetido até que a equipe possa obter uma estimativa confiável da altura do tronco a olho nu.

Avaliação da qualidade do tronco

Os troncos variam em termos de qualidade comercial. Os troncos retos, cilíndricos e sem ocos são classificados como "bons" para uso madeireiro. Os troncos retos, mas com ocos pequenos ao longo de toda a tora, ou troncos tortuosos, mas sem ocos são classificados como "regulares". Por sua vez, os troncos tortuosos e com presença de ocos possuem qualidade inferior.


Apresenta uma relação entre a qualidade do tronco e a proporção de aproveitamento do seu volume. O fator indicado nessa tabela é multiplicado pelo volume total para encontrar o volume aproveitável.



Detecção da presença de oco

Há várias maneiras para detectar se uma árvore está oca. Por exemplo, encostar o ouvido na árvore e bater no tronco com um martelo. Se o som emitido fizer um eco, a árvore estará provavelmente oca.
Além disso, há sintomas que sugerem a presença de oco nas árvores, como casas de cupins, presença de secreções escuras ao longo do tronco e galhos quebrados.
As árvores com troncos classificados como "sem valor comercial" deverão ser preservadas, pois são importantes como produtoras de sementes, fonte de alimentos e abrigo para animais.

Avaliação da direção de queda das árvores

A direção de queda de uma árvore depende da inclinação natural do seu tronco e da distribuição da sua copa.


Tendência de queda das árvores
AMPLA: tronco reto e copa bem distribuída. Pode ser derrubada em qualquer
direção. Ângulo de queda 360 graus.
INTERMEDIÁRIA: tronco reto, copa voltada para um dos lados. Ângulos de
queda entre 90 e 180 graus.
LIMITADA: tronco inclinado, copa desigual e acentuada. Ângulo de queda inferior
a 90 graus.

Obs.: Os símbolos indicam como anotar a tendência de queda na ficha de campo.



Seleção das árvores matrizes

Primeiro, avalia-se a qualidade da copa das árvores para a seleção de árvores matrizes. As árvores com copas saudáveis tendem a ser melhores produtoras de sementes, sendo preferíveis como árvores matrizes.
As características de cada espécie também influenciam na seleção dessas árvores. Para as espécies tolerantes à luz, cuja regeneração adulta vive poucos anos sob a sombra (sub-bosque da floresta), as árvores matrizes são essenciais. Entre elas estão o mogno (Swietenia macrophylla), andiroba (Carapa guianensis), cedro (Cedrela odorata), faveira (Panopsis sp.) e pará-pará (Jacarandá copaia).
Para cada espécie, selecionam-se de três a cinco árvores como matrizes por hectare (incluindo árvores com DAP acima de 30 cm). Quando não é possível selecionar árvores matrizes em número suficiente (quando o estoque de árvores adultas for muito baixo), deve-se plantar indivíduos das espécies nas clareiras após a exploração.


As árvores matrizes devem ser escolhidas próximo de áreas onde serão abertas clareiras grandes, aumentando, dessa forma, as chances de colonização pelos seus"filhotes". A abertura de clareiras grandes tenderá a ocorrer nas áreas onde estão agrupadas muitas árvores exploráveis. Para serem protegidas, as árvores matrizes são indicadas no mapa do censo e demarcadas durante o planejamento da exploração.

Avaliação da iluminação das árvores para o segundo corte

É possível aumentar o crescimento das árvores de valor econômico para o segundo corte (DAP de 30 a 45 cm) eliminando as árvores sem valor que estão competindo por luz e nutrientes com as de valor comercial (Capítulo 10). Faz-se uma avaliação da iluminação da copa das árvores para saber quais delas serão beneficiadas com esse tratamento.

Avaliação da qualidade da copa

BOA: Copa inteira e bem distribuída em torno do eixo central da árvore.
REGULAR: Copa com alguns galhos quebrados.
INFERIOR: Copa incompleta, mais da metade dos galhos quebrados.



Características do talhão

A floresta contém povoamentos de várias idades ou estágios de desenvolvimento incluindo clareiras onde predominam mudas e arvoretas (DAP menor que 5 cm), povoamento juvenil (árvores com DAP entre 5 e 15 cm), juvenil - intermediário (DAP entre 15 e 25 cm), intermediário (DAP entre 25 e 45 cm) e, finalmente, povoamento maduro (DAP maior que 45 cm). Pode-se mapear a localização desses povoamentos utilizando uma folha de papel quadriculado com os limites do talhão. Para facilitar o manuseio, adotar a escala de 1:5.000 (1 cm representa 50 metros).
O anotador desenha no mapa a área de cada tipo de povoamento durante o censo. É importante definir a área mínima de cada povoamento a ser mapeado. Recomenda-se anotar apenas áreas de povoamentos com tamanho superior a 250 m2.

Anotação de observações

Anota-se em um mapa pequeno do talhão informações sobre trechos acidentados, trilhas e estradas antigas e áreas cipoálicas. Essas informações são úteis para definir onde aplicar os diferentes tratamentos silviculturais.


1. Iluminação total 3. Sombral 2. Iluminação parcial


PRODUTOS DO CENSO FLORESTAL


Mapa do censo

As informações contidas na ficha de campo são a base para a elaboração do mapa do censo. Esse mapa será utilizado para localizar as árvores a serem extraídas, árvores remanescentes (exploração futura), árvores matrizes e topografia do terreno.



Etapas de preparação mapa

1. Definir a escala do mapa. Para facilitar o manuseio, o mapa deve ter um tamanho de no máximo 1 m2. Uma escala recomendável seria 1:1.000 (1 cm representa 10 metros). Desta maneira, um talhão de 100 hectares (1.000 x 1.000 metros) seria representado por um mapa com 1 metro de largura por 1 metro de comprimento.
2. Traçar as linhas principais do mapa: cabeceiras, laterais e trilhas de orientação.

Qualidade do tronco e iluminação da copa: 1 - Bom 2 - Regular 3 - Inferior.

3. Desenhar no mapa do censo todas as árvores exploráveis, árvores destinadas à próxima exploração e árvores matrizes com base nas coordenadas x e y.
4. Indicar no mapa as estradas secundárias e as áreas com maior concentração de cipós (zonas cipoálicas), bem como outras informações relevantes.


Cálculo do volume comercial

O volume total de madeira existente em uma dada área (por exemplo, 1 hectare) é o resultado da soma do volume de cada uma das árvores localizadas naquela área.
Para calcular o volume de cada árvore deve-se utilizar as informações sobre a circunferência à altura do peito (CAP) ou diâmetro à altura do peito (DAP), altura comercial e qualidade do tronco (volume efetivamente aproveitável de cada árvore) nas fórmulas:


V = Volume de madeira comercial expresso em metros cúbicos.
CAP = Circunferência à altura do peito expressa em centímetros.
DAP = Diâmetro à altura do peito expresso em centímetros.
A = Altura comercial em metros.
FA = Fator de aproveitamento relacionado à proporção aproveitável do tronco apresentado na Tabela 1.
F = Fator de forma referente à conicidade da tora, geralmente igual a 0,7.

0,00007854 e 125663,7 = constantes.

Veja como calcular o volume de uma árvore com 13 metros de altura comercial, 74 cm de DAP e um fuste de qualidade boa (fator 0,9; Tabela 1).

V= 0,00007854 x (74)2 x 13,0 x 0,9 = 3,5 m3 (fórmula do diâmetro)

Para obter o volume total por hectare é só repetir o cálculo para todas as árvores
e depois somar. O cálculo pode ser feito em uma planilha eletrônica (por exemplo, Excell
ou Access) ou mesmo com uma simples calculadora.


CONCLUSÃO

O censo ou inventário florestal 100% é imprescindível para a elaboração do plano operacional de manejo. As informações coletadas no censo, tais como a localização e avaliação das árvores em termos madeireiros, indicação espacial das zonas cipoálicas e de topografia desfavorável à exploração, permitem calcular o volume a ser explorado e produzir o mapa final do censo. Esse mapa é o instrumento básico para orientar o corte de cipós, o planejamento, a demarcação e construção das estradas e pátios de estocagem, o corte das árvores, o arraste das toras e os tratamentos silviculturais pós-exploratórios.

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